26.7.10

Desci o "Rio Li" numa Canoa de Bambu


(06.04.2010)
Após termos realizado o check-in no hostel próximo à estação dos comboios de Guilin, dirigimo-nos , juntamente com a nossa guia, num carro alugado, até Yangshou - uma localidade próxima, situada, aproximadamente, a 1 hora do local onde estávamos. O carro não estava nos planos, como combinado com a Emy. No entanto, levou-nos o mais depressa possível para lá, uma vez que ficaríamos na cidade apenas 1 dia. 

A sala do "Guilin Flowers Youth Hostel" onde ficámos alojados

O tempo encoberto e cheio de nevoeiro não serviria de bom agouro às imagens planeadas na minha cabeça após ter pesquisado na internet um pouco mais sobre Yangshou. Contudo, deixámo-nos ir. Segundo informações da nossa guia, "não nos iríamos arrepender". E confio!

Entro para uma canoa feita de ramos de bambu, com alguns acentos improvisados com cadeiras amovíveis que dão para, pouco mais de 4 ou 5 pessoas. Sem receios, aceito sem medo, e sento-me nela. Partimos pelo rio Li fora. 

 Canoas de Bambu no Rio Li - Yangshou


Olho à minha volta e à medida que vamos descendo pelo rio, fico cada vez mais extasiante com a paisagem. Se primeiro estava esmorecido pelo tempo, agora acredito ter tido uma sorte incrível por descê-lo desta forma mística que só nós experienciámos. As nuvens cobrem parte das enormes montanhas verdes que circundam as margens largas do rio, dando um ar incrivelmente belo. De qualquer forma, acredito que o rio Li é, sem dúvida um lugar de paixão para qualquer um que por aqui passe, quer esteja sol ou a chover torrencialmente. 

 Margens do Rio Li


Sento-me na cadeira da frente desta canoa frágil e apenas me deixo embalar pelo balancear das pequenas ondulações. Olho mais uma vez á volta e tudo é TÃÃÃOOO encantador, que nem sei muito bem com que palavras descrever esta beleza. Sinto que nenhum lugar como este é tão mágico. Contudo, tenho receio de dizer o mesmo da maior parte dos sítios por onde vou passando. Mas a verdade é esta: 

- sou um ser apaixonado pelo mundo e por tudo o que me rodeia quer seja ou não considerado belo segundo os conceitos dos outros! Sinto que, grande parte das coisas me faxinam e entusiasmam!


Mas o Rio Li não é mais um lugar comum, como todos os outros. Sei que não! Este é o lugar onde poderei fechar os olhos e, lentamente, cheirar a natureza pura enquanto a brisa fresca toca no meu rosto. Neste lugar dou por mim a modificar as minhas emoções de forma tão subtil que, fisicamente, é também visível esse estado: um leve, mas vincado, sorriso de um contentamento de tranquilidade brota dentro de mim, enquanto permaneço de olhos fechados. Uma calma securizante invade-me. E aqui despojo-me de todos os meus pensamentos. E vivo, apenas! Sentindo… 


Emy: A Guia


 (06.04.2010)
Coloco o despertador 45m antes do horário previsto de chegada do comboio a Guilin. Olho à minha volta e não dou por falta de nada. Ainda tenho comigo os meus pequenos haveres. Desço do andar de cima do beliche e arrumo as malas, colocando-as no corredor do comboio. Tomo o pequeno almoço que trouxe de reserva (um Yogurte de pêssego) e fico à espera que chegue ao destino. 
Por fim, chegamos. Atrasados, mas chegamos. Com estes 45 minutos de atraso, receamos que a nossa guia já não esteja à nossa espera, tal como combinado por e-mail. 
Nuno com a nossa guia Amy
Malas às costas, descemos do comboio. Seguimos as indicações de saída e lá fora temos alguém que nos espera com um letreiro: “Welcome Nuno”. É a nossa guia – a Emy – que com um sorriso nervoso nos saúda alegremente. Como é tão bom ser recebido em qualquer país, cidade ou lugar perdido onde estejamos!!!!

T38: O Comboio-Hostel


(05.04.2010)
Entrei à pouco no comboio T38 de Guangzhou em direcção a Guilin. A travessia até lá vai ser feita de noite. Preferimos este horário por 2 simples razões: a primeira, para pouparmos tempo na viagem. Viajamos de noite, enquanto dormimos. A segunda, porque pela compra do bilhete oferecem-nos um mini “hostel” de 2m2. Portanto, poupamos tempo e dinheiro. Afinal, não se diz mesmo que tempo é dinheiro?


 Este mini “hostel” é composto por 2 beliches. Eu o Nuno ficamos nos beliches de cima (os mais caros), porque os debaixo já estavam esgotados (porque será???)!!! Connosco viajam mais 2 outras pessoas. Japonesas, parece-nos. 

Uma já idosa e outra novata, mais ou menos da nossa idade. Talvez avó e neta? Não falam nada de inglês e apenas se riem quando cá de cima retiramos dos sacos o nosso jantar: sandes de queijo com pão de passas acrescido de um refrescante sumo de maçã, comprado em Guangzhou no “7-eleven”, as famosas lojas abertas 24h existentes por aqui. Lá em baixo janta-se uma sopa cujo recipiente contem uns pós estranhos de corantes, cuja água é aquecida numa pequena chaleira. Diga-se que pelo cheiro, prefiro o sandocha! 


 Este pequeno espaço onde estamos é pequeno. Vivo por 11 horas apenas numa cama, tendo espaço para guardar a mochila e os sapatos. Nestes 2m2 estão disponível uma pequena televisão que não sabemos como ligá-la, e ainda alguns botões para ouvirmos rádio, caso trouxéssemos auscultadores para serem ligados ao comboio!!! Ou seja… permanecemos sem nada para fazer durante a viagem, a não ser, dormir! Afinal, precisamos de recompor as energias! 

 

 São neste momento 21h45m. Estamos a caminho há 2h, estando a chegada prevista para as 6h45m, segundo as informações que a “revisora” nos deu, unicamente com as palavras “Guilin” e “hours”, apontando decididamente para o pulso. Ela entendeu, e com gestos respondeu a hora prevista. Aqui dentro já estão todos a dormir. Consigo ouvir o pequeno ressonar do Nuno, sentindo que, eventualmente, poderemos causar, os dois, alguns incómodos às vizinhas debaixo quando eu for, verdadeiramente, dormir. Afinal, andamos cansados, e ressonar será normalíssimo. 

Espero poder acordar a horas para tentar reconhecer os caracteres da estação de comboios de Guilin. Já coloquei o despertador para as 6 da manhã, e anseio que as vizinhas do andar de baixo não se dignem a roubar os passaportes, a máquina fotográfica ou mesmo o pocket PC que trouxemos! A ver vamos! Boas noites… 

Olhar a Pobreza em Guangzhou


(05.04.2010)
Já estamos a viajar pela china há alguns poucos dias. Os suficientes para não me lembrar de trabalho. Por norma, mal entro de férias, esqueço-me do mundo do trabalho. Não, porque não goste do que faça (antes pelo contrário), mas acho que consigo separar muito bem estes 2 mundos: a vida pessoal e a profissional.

 
Hoje, em Guangzhou, vi tanta coisa. Tantas pessoas nas rua. Ruas cheias. Repletas como nunca vi. Vi mosteiros e templos budistas lindíssimos. Andei a pé (muito), de metro e de barco. Tirei inúmeras fotografias nesta ânsia de captar cada momento. Mas no meio desta cidade industrial ENORME, cheia em pessoas e também de prédios, avenidas e cruzamentos com construções gigantescas que parecem nunca mais ter fim, observei a pobreza em cada esquina. 

Normalmente, nas ruas junto aos templos há pobres. Muitos. Que nos olham e entristecem. Há crianças, mulheres e idosos. Alguns tocam um instrumento qualquer, outros simplesmente, em silêncio, nem nos olhos nos olham. Alguns pedem com a mão estendida, outro imploram desesperadamente que alguém lhe dê alguma coisa. Alguns parecem “sadios”, sem problemas aparentes, outros apresentam-se mutilados e com mal deformações nos braços e nas pernas. 

Quando entrei no barco para retornar ao meu alojamento no hostel do outro lado de lá do rio, vi também que as mulher realizam trabalho forçado, tendo de trabalhar nas obras. Elas têm capacetes, fardas e pás nas mãos como os homens. Trabalham na construção civil por baixo de um calor ainda suportável. Mas a vida teve de levá-las a isso, para se sustentarem. 

E nesse mesmo barco, enquanto estava sentado, olhei à minha volta toda esta realidade. E aqui me lembrei, pela primeira vez neste tempo, do meu trabalho como assistente social. Pensei nas crinças e jovens na rua com quem lido diariamente. Pus-me a pensar na importância de elas poderem viajar, tal como eu estou a realizar e na felicidade que isso lhes poderia trazer. Pensei até na possibilidade de elas viajarem comigo. Como seria? 

Sei que esta felicidade adviria não só do facto de nunca terem viajado e conhecido o mundo. Adviria não só do facto de nunca terem andado de avião, de riquexós ou outros transportes. Adviria não só do facto de conhecerem novas línguas e experimentarem outros vocábulos. Adviria não só do facto de testarem outros sabores e paladares de outras culturas.

Mas tenho a certeza, que essa felicidade viria, também, e especialmente, pelo facto de darem mais valor a si mesmas por se posicionarem de forma diferente face aos outros. Não de forma superior. Jamais. Mas pela observação dos recursos internos que têm e que muitas vezes desconhecem. E esses recursos são valiosos. Fazem a diferença de poderem, simplesmente, mudar o rumo das nossas vidas. E muitas vezes só descobrimos isso quando viajamos ou estamos disponíveis para isso. Basta olhar em cada esquina de Guangzhou e perceber a miséria.  

A Vida Budista Através dos Templos


05.04.2010
Chegámos ontem a Guangzhou. Hospedámo-nos, apanhámos o barco, percorremos as ruas da cidade, estabelecemos relações humanas, conversámos e provámos as iguarias locais. Hoje, já foi dia de despedida. Antes que o dia terminasse, aproveitámos para conhecer o que nos restava: a vivência da cultura desta região.

Após termos tomado, no hostel, um mega pequeno-almoço ocidental recheado de boas torradas com manteiga, leite com café e sumo de laranja, saímos em busca de vários templos a não perder. O primeiro deles foi o Templo Guangxiao, por ser o mais antigo e importante do Sul da China. 


Templo Guangxiao

Na entrada encontramos duas estátuas de guardiões do templo que nos fazem lembrar estátuas hindus. Todo o templo é composto por vários complexos de prédios, de tonalidade avermelhada, de diversos tamanhos, e com diversas imagens de Buda de cor dourada.

A religiosidade do povo Chinês faz levar muitos peregrinos, que em oração, se deslocam até ao templo. Os incensos são a forma, mais prática, que incluem nas suas preces. Nas mãos trazem paus de incenso acesos, reclinando-se diante de cada uma das imagens. Muitos deles oferecem, também, diante das imagens, frutas e flores. 

Preces fervorosas de Budistas

Já na rua, em direcção ao Templo Liurong, perdemo-nos por entre ruas sujas e completamente fedorentas. Nalgumas observamos chineses, confortavelmente sentados no chão, ou a petiscar qualquer coisa em tascas para lá da caracterização de nojentas e inóspitas. Pedimos indicações. Sorriem, apontam e realizam gestos. Acenamos com um obrigado e seguimos em frente por tentativa e erro.Mas chegamos enfim...

Templo Liurong

Encontrámos um outro templo fenomenal. Diferente do primeiro, mas soberbamente maravilhoso pelo seu imponente pagode de 57 metros e de 7 andares, situado no centro do templo. Há volta existem outros pequenos templos, com estátuas de Budas lindíssimos. Mas há ainda, também, algo que nos espanta para lá dos Budas: uma área reservada ao culto das gerações dos seus familiares. Milhentas caixinhas pequenas douradas estão ali à nossa frente. Algumas delas possuem fotografias. Todas são reverenciadas.

Culto aos antepassados

Por fim, conseguimos visitar o Templo Ancestral da Família Chen, um lindíssimo edifício de madeira construído com os donativos de todas as famílias Chen da província de Guangdong. Está constituído por salas, pátios com pequenos e grandes bonsais e edifícios ligados por corredores.

 Entrada no Templo da Família Chen



Ao final do dia, passamos ainda pelo mercado de Jade que nos induziu a realizar  compras  como lembrança para família e amigos.
Cansado entro no barco de regresso até ao hostel. Olho para trás e dou-me conta que haveria tanto por ver, conhecer e sentir. Volto a olhar adiante e percebo que tenho, ainda, uma mala para fazer para mais uma partida!

25.7.10

Mais Vale Prevenir ... que Molhar!!!


Chapéus emprestados pelo "metro" de Guangzhou para chuvas imprevistas. Não é lindo? Havia de ser em Lisboa... provável molha a partir do 2º dia!!!