29.7.07
O Dia das Descidas: Viver a Radicalidade da Aventura
corrente e, simplesmente, admirámos a sua beleza. Há que dizer que a construção do Castelo remonta aos séculos II antes de Cristo. É certamente, uma forma de felicidade ao olharmos, sentirmos e estarmos perante um rio onde, no meio dele, se ergue um Castelo. Pouco a pouco vamos chegando junto a este pedaço da nossa História. Quase à sombra deste edifício milenar, apercebemo-nos da importância que deve ter tido nas conquistas e reconquistas do território que um dia se tornou Portugal. Desembarcamos pelo lado direito da ilha, e vamos visitar o Castelo. As canoas ficaram presas entre as rochas. Subimos à torre de menagem e … É uma vista de tirar o fôlego. O Tejo contorcendo-se pela lezíria a caminho do oceano, e as populações ribeirinhas caiadas de branco. Estamos em terras de Templários! O menos espectacular foi eu ter dado uma cabeçada nos tectos de baixas dimensões aquando dava por terminada a subida no último degrau. Sinceramente, pensei que tinha partido a cabeça. Afinal… mais um momento de descontracção e risada para todos os outros. E eu? Tentei disfarçar a dor apontando para o rio referindo onde seria a nossa chegada de canoa que se avistava de cima do Castelo. Rio-me, também, quando olho e vejo escrito com corrector numa das muralhas “Tadoro e Tamo Luísa” - alguém que, certamente, ainda não conseguiu perceber que os erros de português poderão ser talvez um impedimento de ser amado!!!
Mais uma vez embarcamos nas canoas, agora para um percurso que, rapidamente, nos aproxima do fim da descida. Na margem direita e junto a um grande e antigo cais, está a rampa de desembarque. Quisemos ser os últimos a chegar para poder aproveitar ao máximo o tempo que ainda nos restava. Doíam-nos os braços. Mas gostaríamos que esta descida pudesse durar também da parte da tarde, simplesmente pela sensação de estarmos em repleto contacto com a natureza. Pela sensação de liberdade, pela sensação de desfrutar de pormenores e vistas fabulosas. Por tudo, não queríamos terminar a nossa aventura já ali… Estávamos prontos para almoçar, e podemos fazê-lo à sombra no relvado à beira rio. Afinal, era preciso retomar forças para a actividade da parte da tarde! E se foi preciso! Sandes, iogurtes, sumos, fruta fresca, croquetes de carne para quem come carne, água, muita água!!! Assim, nos alimentámos… e ali ficámos a retomar forças.
DESCIDA EM RAPPEL DA PONTE DA VILA DE CONSTÂNCIA
Ás 15:30 iniciou a actividade de Rappel. Olho a ponte cá debaixo e vejo duas intermináveis cordas penduradas. O monitor explica como tudo se processará. Alguns valentes querem ser os primeiros a experimentar, numa tentativa de impressionar o resto do grupo que estava um pouco assustado. Ainda mais assustado ficou quando alguns destes valentões que quiseram ir em primeiro lugar, regressam a pé, desistindo de realizar o Rappel. Dizem que não têm medo. Apenas falta de coragem!!! Penso então que muito mais do que exigir grandes aptidões físicas, este exercício desenvolve a força psicológica e a capacidade de decisão. A Cláudia e Susana já decidiram: não vão… muitos outros se juntam a esta decisão!!!
Deixo passar algumas pessoas à frente enquanto a adrenalina se vai instalando. Não sou capaz de descrever o que estava a sentir. Talvez um misto de medo, adrenalina, estado maníaco, valentia, cobardia, terror, embriaguez, impressionismo, estupefacção… disfarçava tudo isto com humor, muito humor! Não era a primeira vez que estava a realizar uma actividade destas. Mas, certamente, era a primeira vez que realizava numa altura destas!
Já tenho vestido o Bouldrier, totalmente ajustado às pernas e à cintura. Sou um dos próximos. Espero apenas que desça alguém para me dar o restante equipamento, o capacete e a luva. Olho para cima, e vejo que lá em cima alguém ficou preso. Está suspenso numa altura infindável. A t-shirt dele ficou presa no “Freio 8” - equipamento em formato de oito, feito a base de titânio, por onde a corda passa e faz atrito, tornando possível o controle da descida pelo praticante. O silêncio é geral. O que se está a passar? Apenas vimos que um dos monitores desce por uma outra corda até o alcançar. É-lhe lançado uma faca, onde esfateja a T-shit Nike do rapaz! Após 15 minutos estar preso no meio da descida lá consegue chegar a terra firme.
Já totalmente equipado subo até ao cimo da ponte. Estão algumas pessoas ainda à minha frente. Agora sim, vejo a dimensão que a ponte têm. Lá de baixo nem percebemos bem o quão alto é! Estou com medo. Quero desistir, mas não comento a ninguém. Só me passa pela cabeça que esta gente é completamente louca! Vejo a cara das pessoas ao colocarem as pernas para o lado de fora das grades. Tremem que nem varas verdes, agarrando-se, com todas as forças, às grandes com medo de cair, mas mesmo assim, fazem-se de fortes. Sorriem. Mandam piadas. Tornam-se irónicas. Ouvem a explicação do monitor, e com expressões faciais tensas, vão descendo com a indicação técnica. Fico um pouco aflito. Sou eu a seguir!!! Olho lá para baixo e vejo todos os outros como pontos pequenos. Consigo perceber alguém que acena. É a Cláudia. Diz que me vai tirar fotografias! Está eufórica e ri-se com a minha figura! Nem lhe presto muita atenção. Já estou com as pernas do lado de lá das grandes. Eu, assim como os outros, agarro-me ás grades com todas as forças que tenho, apesar de estar seguro. Não cairia, mas a adrenalina é tanta que nem nos deixa pensar. A única coisa que me sai da boca são asneiradas. Tantas, de todas as formas e feitios. Eu não sou assim. E rio-me descontroladamente. Mais uma caralhada que digo, e outra e outra. As pessoas que vão a seguir a mim riam-se também. Rimo-nos todos. Rimo-nos dos nervos. Estava pronto! Ou talvez nem tanto… mas começo a descer… olho para baixo! O que eu fui fazer? Sinto o coração a alta velocidade. Com os pés na berma da ponte, vou-me inclinando aos pouco até ficar totalmente paralelo ao chão, uma mão segurando o Bouldrier e a outra segurando a corda atrás das costas. Estou preso apenas por uma corda! Solto os dois pés da ponte e agora sim, estou totalmente suspenso. Após perceber, que tinha passado a parte pior, ridiculamente, sinto-me mais descontraído. Aproveito para observar todo o rio que hoje já o canoei… é enorme. Vejo a paisagem e aos poucos e poucos vou descendo, deixando escorregar a corda por entre a luva. Aperto novamente a corda para não ir muito depressa. Estou a adorar. É uma sensação única. Única mesmo. E sinto-me cheio. Feliz. Capaz. Único também! Cá em baixo a Cláudia continua a fotografar-me. Olho para ela e rio-me. Agora esta foto foi com sorriso! Volto novamente a concentrar-me naquilo que estava a fazer e a viver. E perspectivo o mundo de outra dimensão. É fantástico realmente vê-lo por outras perspectivas, sem ser sempre as nossas. Aprendemos mais. Sentimo-nos diferentes. E crescemos…
Chego cá a baixo e estão já algumas pessoas amigas a perguntarem a sensação. Não consigo explicar. É, sem dúvida, indescritível. Só mesmo vivendo e experenciando. Alguns riem-se. Vem ter comigo e dizem que disse tantas asneiras repetidamente lá em cima, que é impossível não se conterem… mas riem-se sobretudo com a expressão “bola pintelhuda” que, sinceramente, não me recordo de a ter dito! Bola pintelhuda??? Meu Deus! O que a adrenalina nos faz!!!!
Todos juntos, fomos então lanchar. E depois do lanche, um mergulho nas águas gélidas do rio Tejo. Credo! Acho que nunca tinha sentido uma água tão fria como esta. Até os “tim-tins” se congelaram! Saímos rapidamente. Regressámos e o cansaço tomou conta de nós. Adormecemos á sobra de uma árvore. Descansámos. Que boa sensação de acordar com uma leve brisa fresca. Sentimo-nos felizes. Foi um dia em grande. Em grande mesmo. E não nos cansamos de dizer isso mesmo uns aos outros. “Foi do Melhorio”!!!




