14.3.10

Uma Noite Cheia de Emoções

Depois de mais um dia por Poznan, chagamos sempre cansados a casa. Apanhamos o último horário do autocarro especial que nos traz até Kórnik. Usualmente, despedimo-nos uns dos outros, combinamos o horário de encontro para o dia seguinte, e cada um vai para as suas respectivas famílias.

No entanto, esta noite foi diferente!

Mal saímos do autocarro especial, houve participação massiva e completa de todos numa MEGA guerra de bolas de neve, alí mesmo, junto à paragem. Nela incluímos, obviamente, outros jovens que, nada tendo a ver com este grau de loucura (quase a roçar um psicotismo grupal), mas que por alí passavam. 


Corri sobre aquela imensa neve, com medo de todos. Corri, também, para me "vingar". Ri-me desalmadamente, num contínuo e em gargalhada estridente. Com as luvas formei bolas gigantes de neve e atirei-as a quem ali se econtrava. Foi um momento único que me fez recordar tempos de crianças em que as formalidades ainda não estão activadas no nosso "chip" de adulto. Corremos, brincámos, rimos. Decerto, sei que seremos muito mais felizes quando aprendermos a viver fora de uma rotina e de formalidades comportamentais. 

"Fica mal se fizeres isto", "Parece mal se te comportares dessa maneira", "As pessoas da tua idade já não têm esse tipo de comportamento". Decerto, todos nós já ouvimos este tipo de regras para poderem ser cumpridas ao se activado o "chip" de vida adulta. Mas quem forma as regras? Existem mesmo regras? Para que servem se nos castram?

Se encontramos a felicidade e vivemos desreprimidos relativamente às regras estipuladas pela sociedade, então, cada vez mais tenho a certeza que o caminho é por aí mesmo: continuarei a correr livremente, a brincar como uma criança, e a rir de forma descontrolada. Porque isso dá-me vida!

No bar em Kórnik

Não cumprimos as regras e não fomos, imediatamente, para casa. Fomos, em grupo, para o único bar existente em Kórik, mesmo em frente à minha casa de acolhimento, para continuarmos a festa em grupo. Uns beberam umas cervejas, outros sumos. E alí deixámo-nos estar em conversas, sem nenhum conteúdo, aparentemente, interessante, mas que nos fazem descobrir os laldos uns dos outros.


O bar de Kórnik visto da janela do meu quarto

Chegámos a casa não muito tarde, até porque a nossa família estava à nossa espera, tal como todas as noites. Sabendo disso, saímos do bar, e simplesmente atravessámos a rua para estarmos em casa. Á nossa espera estavam, ansiosamente, todos reunidos para poderem estar connosco. A mesa posta na sala com algumas entradas e bebidas, permitiu-nos, apesar de cansados, ficar confortavelmente a descobrir-mo-nos mutuamente. Ambos quisémos saber mais. Histórias com conteúdo, outras nem tanto. Apenas o simples facto de querermos, implicou-nos a ouvir, a estar, e a permanecer até tarde... Adorei esta noite!!!!    

Nós com a família Taciak reunida

Mensagens de Esperança

É também aqui no MTP que se realizam as orações comunitárias, 3 vezes por dia: ao almoço, à tarde e à noite. Para quem desconhece do que se trata, nada tem a ver com o conceito habitual de orações, de reza, ladainhas, terços ou afins. Não... Taizé é diferente! Porque como é uma comunidade ecuménica, tem de respeitar todas os credos cristãos. E a melhor forma de o fazer, é através do canto!


São cânticos que têm alma, que falam por si e que nos tocam. A beleza das vozes cantadas entre milhões de jovens que se reúnem aqui é indescritível, e até o mais leigo humano é incapaz de se sentir atraído por estes momentos.

Os jovens presentes no encontro reúnem-se, na totalidade, unicamente, nestes 3 momentos do dia. E aqui gera-se, sem dúvida, uma força única que levamos para os nossos países, terras, cidades, famílias e amigos. São estas orações comunitárias e os "workshops", enriquecidos com testemunhos de pessoas empenhadas na procura de mais justiça, mais solidariedade e mais paz no Mundo, que permitem que, quando regressamos aos nossos países, também nós nos empenhemos nessas causas nobres. A liberdade pela qual tantos lutaram no século XX esteve no centro dos debates, para que possamos, também nós, dar sentido à liberdade.


São assunto sérios que se debatem com uma profundidade que nos toca e impele a agir. Jamais as mensagens destes encontros me deixaram imunes. Elas são simples, e implicam-nos na construção de uma sociedade mais justa.

Mudar concepções, pontos de vista, ideias, atitudes e comportamentos nos jovens de todo o mundo, sem nunca se ter uma atitude moralista, é fazer deles seres humanos empenhados, participados num mundo que também é deles. Por isso, é muito comum observar-se vários jovens, como este da fotografia, que após o término do "workshop" ou das orações ficam sentados a digerir e a interiorizar mensagens de esperança. Porque o que se ouve é forte e o que se vive é especial.


"(...) Aprendermos a não termos tudo preserva-nos do isolamento. As facilidades materiais levam  muitas pessoas a fecharem-se sobre si mesmas, descurando as verdadeiras formas de comunicação.

 (...) Há muitas iniciativas de partilha que estão ao vosso alcance: desenvolver redes de entreajuda, favorecer uma economia solidária, acolher os imigrantes, viajar para compreender por dentro outras culturas e outras situações humanas, promover geminações de cidades, de vilas, para ajudar aqueles que precisam de auxilio; utilizar bem as tecnologias para criar laços de apoio...

Permaneçamos atentos para não nos deixarmos invadir por uma visão pessimista do futuro, focando-nos nas más notícias. A guerra não é incevitável! O respeito pelos outros é um bem inestimável para preparamos a paz (...)

As análises e os apelos com vista a promover a justiça e a paz não faltam. O que falta é a motivação necessária para preservar para lá das boas intenções. (...)"
(Carta da China, 2010)

1.3.10

Comer Simplicidade, Beber Acolhimento

O Miedzynarodowe Targil Poznanski, ou para nós estrangeiros, o MTP (por ser mais fácil de se pronunicar), foi o local onde o encontro de Taizé se realizou. Foi aqui que 30 MIL JOVENS, de todas as partes do mundo, se reuniram, várias vezes ao dia, para conhecimento interior, partilha, convívio e para realizarem as refeições.


O espírito destes encontros são sempre de simplicidade.
Há voluntários no MTP por todo o lado que ajudam e auxiliam nas tarefas necessárias. Nas horas de almoço ou jantar juntam-se filas de voluntários. Uns distribuem as comidas, outros recolhem o lixo e outros indicam as pessoas para os locais. 

O espírito é mesmo este. Que tudo possa ser feito com voluntariado. E por isso, as condições são mínimas: sentamo-nos no chão para comermos, retiramos da nossa mala os talheres trazidos de casa, e comemos a comida enlatada distribuída. É oferta, o tradicional chá quente de taizé distribuído a todos os participantes.


No entanto, apesar das condições, a alegria que se vive uns com os outros  nestes encontros é de tal forma viciante, que chegamos a sentir falta caso não possamos vir no ano seguinte. Por isso digo: Aqui comemos simplicidade, mas bebemos acolhimento!