5.12.07

Che Guevara: Percorrer a América do Sul de Mota

"O verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de generosidade; é impossível imaginar um revolucionário autêntico sem esta qualidade”
Che Guevara

A TRANSFORMAÇÃO DA VISÃO DO MUNDO DÁ-SE QUANDO VIAJAMOS...

Em 1952, dois jovens argentinos, Ernesto Guevara e Alberto Granado, partiram numa viagem de estrada para descobrir a verdadeira América Latina. Ernesto era jovem de 23 anos estudante de medicina especialista em leprologia, e Alberto, de 29 anos, era bio-químico. Com um romântico sentido de aventura, os dois amigos deixam os seus confortáveis ambientes familiares em Buenos Aires em cima da motocicleta de Alberto, uma 1939 Norton 500, que recebeu a alcunha "La Poderosa".

Embora a mota se avarie durante a sua jornada, eles continuam com recurso à boleia. Á medida que se afastam cada vez mais da familiar e confortável Buenos Aires, os dois amigos começam a conhecer uma diferente América Latina, através das pessoas que encontram na estrada, ao mesmo tempo que a variada geografia que encontram, de montanhas a desertos, de complacentes ricos a pessoas de pobreza extrema, começa a reflectir as suas próprias perspectivas em mudança. De mineiros sem casa a prostitutas de barco, de vítimas de lepra a pessoas prósperas, Ernesto e Alberto descobrem uma afinidade para a humanidade neles, e uma determinação para mudar o mundo. Durante a viagem de 8 meses e 10 mil quilómetros, partindo da Argentina, seguindo através dos Andes para o Chile, passando pelo deserto de Atacama para o Peru, em direcção a uma colónia de leprosos, até chegar à Venezuela, eles sobem às alturas de Machu Picchu, onde as majestosas ruínas e o extraordinário significado da herança Inca, destruída pelos invasores espanhóis, lhes causa um profundo impacto. Quando chegam à colónia de lepra de San Pablo, localizada nas profundezas da Amazónia peruana, os dois jovens começam a questionar o valor do progresso que é definido por sistemas económicos que deixam tantas pessoas na pobreza extrema e as oprime. As suas experiências na colónia despertam neles os homens que eles irão tornar-se mais tarde, ao definir a jornada política e ética que vão seguir nas suas vidas.

Visitaram minas de cobre, povoações indígenas e leprosarias, interagindo com a população, especialmente os mais pobres. Observaram, interessaram-se por tudo, analisaram a realidade com olho crítico e pensamento profundo. Os oito meses dessa viagem marcaram as suas vidas. Saíram dessa viagem chocados com a pobreza e a injustiça social que encontraram ao longo do caminho e identificaram-se com a luta dos camponeses por uma vida melhor. Foi por causa da visão de tanta miséria e impotência e das lutas e sofrimentos que presenciaram que concluiram que a única maneira de acabar com todas as desigualdades sociais era promovendo mudanças na política administrativa mundial. O confronto com a realidade social e política da América Latina alterou, assim, a sua percepção que tinha do mundo, despertando novas vocações, associadas ao desejo de justiça social.

CHE GUEVARA EM MIM...???

Sinto que tenho dentro de mim um bocadinho de Che Guevara. Sou Assistente Social de profissão. E o desejo de justiça social no mundo actual impera quando viajo e me deparo com situações extremas. O "outro" por mais inútil que seja, tem sempre valor e dignidade pessoal. Há que defender. Há que olhar. Há que ser irreverente. Basta de indiferença, desrespeito pelo valor da vida de cada ser humano. Cada um é único e irrepetível. Ninguém se substitui por ninguém, pois cada ser humano é simplesmente único. E por ser único tem um valor inestimável.

Dizia Che Guevara: "Vale milhões de vezes mais a vida de um único ser humano do que todas as propriedades do homem mais rico da terra". Defender o Ser e não e Ter, é verdadeiramente urgente!

Mas que fazer quando vimos diáriamente situações de injustiça social? Quando ninguém defende um verdadeiro sistema nacional de saúde ou, simplesmente, uma educação para todos? O que fazer perante situções de solidão afectiva que encontramos vivamente nas nossas grandes cidades? Que fazer perante infâncias roubadas e não vividas? Que fazer para melhorar a comunidade, a cidade, o país e o mundo onde vivemos?

"Estar Atento", talvez seja a resposta. A atenção impele-nos a estar mais "conscientes", que por sua vez leva-nos a sermos "activos" e "verdadeiramente responsáveis" pelos outros e pelo mundo, e a não ficarmos indiferentes perante situações de violação dos direitos humanos.

O acto de viajarmos permite-nos questionar. Se tivermos atentos, receptivos e abertos ao mundo, fácilmente percebemos que vivemos de forma interdependente uns com os outros. Para lá dos preconceitos de raça, cor, religião, filosofia, partido político, orientação sexual, cultura, hábitos ou qualquer outro, descobrir no outro aquilo que eu sou é verdadeiramente único. É uma sensação de que "tu" fazes parte de "mim", e que por isso "sou responsável por ti"... Ter a responsabilidade pela vida dos outros e pela vida do mundo, é sentir-se a viver numa família global. Quem descobre este sentimento de cumplicidade, percebe que o mundo não é para turistas. O mundo é para viajantes!

* "Deixa o mundo mudar-te, e podes mudar o mundo" * “Se você treme de indignação perante a uma injustiça cometida a qualquer pessoa em qualquer parte do mundo, então somos companheiros.”

Che Guevara

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