25.9.07

Viajar é Sentir!

Viajar é Sentir!
Dentro ou fora de nós, parado ou em frenético movimento.
E o meu ideal? Baseia-se na profundidade do relacionamento, nos elos de amizade que só a permanência longa num lugar permite. Mas por enquanto, vou vivendo e viajando como posso. As fronteiras separam o que não pode estar unido, dando um peso definitivo à diferença e à identidade.
Eu, por outro lado, anseio a diferença e a identidade. É isso que me move e me faz mexer nas entranhas mais profundas. É isso que me faz conquistar mais alma, que me faz admirar os outros e desejar abraçar o mundo e senti-lo a respirar feliz...
Quem poderá dizer o contrário, de que viajar não é sentir?

Não sou aquilo que possuo, mas aquilo que vivo!

Parking Des Pêcheurs - Mónaco
Para mim, viajar é essencial. E diga-se que não é um luxo. É antes uma prioridade, pois acredito que quem não viaja é como quem não lê. Prende-se unicamente ao inicio, à leitura da primeira página, deixando por desvendar um final que dá sentido a todo um enredo, a toda uma vida. Viajar serve, essencialmente, para comparar. Descobrir o que nos separa e o que nos une como seres humanos. Visitar o Principado do Mónaco, é visitar o luxo e beleza. Estas duas palavras bastam para descrever a sua essência. Estacionamos a carrinha junto do terminal. Deixamos as bagagens no lugar, e partimos livres à descoberta do Mónaco. Sentamo-nos junto a um mural que fazia barreira para o mar, e antes de iniciarmos a aventura, alambazámo-nos com os “restos” da viagem, algumas coisas já azedadas e fora do prazo, outras que para lá caminhavam. Comi o que havia, e que saudável não era, exactamente, o termo. Mas estou vivo! Lembro-me de ver uma gaivota pousada no mural. “Que foto fantástica” – pensei eu! “E ficaria melhor se eu tivesse também na foto” – retorqui para o grupo, num discurso um pouco narcísico! Lembro-me de iniciar esta descoberta pelo Mónaco atrás de uma gaivota que fugia passo a passo sobre o mural branco, cada vez que me aproximava. Queria ficar eu e ela na foto! A primeira foto no Mónaco! Lembro-me de estar a fazer figuras perante os outros que se riam de mim, e de me tentar aproximar de forma tão lenta quanto possível daquela ave, diga-se, estúpida!!!! Ainda hoje estou para perceber como ela conseguia perceber que me estava a aproximar dela, se estava de costas? Haverá alguma parte da anatomia das aves que não me ensinaram no secundário? Já ouvi falar no 3º olho… mas em animais… duvido! Enfim… fica no entanto aqui registado a sua foto (sem mim, claro!)
Iniciámos a viagem e a descoberta do Mónaco de forma lenta. Tínhamos tempo suficiente para explorar tudo, até porque o Mónaco é um país pequeníssimo, capaz de se ver num dia! Já viram isto? Ver um país num dia!!!! Eu já o fiz, de uma ponta à outra! Passamos pelo Museu Oceanográfico para poder aceder aos Jardins “Saint-Martin”. São jardins verdes, belos e de uma vista magnífica saboreávamos o Mónaco cá do alto. Um mar azul estendia-se à nossa frente submerso em casas e empreendimentos luxuosos bem à nossa frente: “Porto de Fontvieille”. Certamente, estamos habituados a observar, em frente à porta da nossa casa, carros que nos permitem deslocar. Aqui, para se encurtar as distâncias, são meros Barcos que estão à porta de casa! “Barcos!” – é expressão à pobre! Iates é a palavra certa! E ali me detenho a contemplar este mundo à parte, de uma Europa que já se diz de 1º Mundo!
Porto Fontvieille - Mónaco
O que sinto ao ver o Mónaco é que tudo está no lugar. Tudo é luxo. Tudo é bonito. Nada está fora do lugar. Não há, os habituais, papeis e lixo no chão. Tudo está limpo e arrumado. As ruas pequenas e apertadas, mas triunfantes. Esta é a sensação de andar pelo seu meio. A Catedral e o Palácio Princier são outros dois monumentos sumptuosos, capazes de cortar a respiração a qualquer um. Dou de cara com a catedral depois de percorrer os Jardins, e ainda mais lá em cima, está a Igreja, virada para o mar. Por ali passam vários turistas. Todos tiram fotografias. Contenho-me um pouco, e após desaparecer alguns deles, lá consigo tirar uma fotografia quase sem “camones” infiltrados em fotografias desconhecidas. Percorro e visito os monumentos. Deixo-me estar. E contemplo...
Catedral - Mónaco
Por trás do Palácio há umas escadarias enormes que desço para saber onde elas me levariam. Vou dar a uma praça singela. Vende-se fruta, flores, artesanato, revistas e postais. Meto a mão ao bolso, e feito pelintra, ali mesmo, conto os trocos. Vejo como é caro cada coisa, e os meus euros quase que não chegam para pagar a despesa de 3 postais, que ainda hoje, não os coloquei no correio! O tempo foi escasso! Desculpa mãe! Apetece-me parar para comer qualquer coisa, e nesta praça almoço. Juntam-se outros comigo, e assim, partilhamos despesas. Depois de barriga cheia, também de gargalhadas, seguimos em conjunto, e percorremos a famosa “Rua Grimaldi”, que percorre toda a marina (Porto Hercule), que é tão característica. O Mónaco é uma área pequena, com cerca de 25 mil habitantes, em 1,95 km², o que não diminui sua importância. O turismo e o lazer são sua grande alavanca económica, que tem seu ápice na famosa corrida de Fórmula 1. Não poderia esquecer de citar o quanto é interessante percorrer as ruas que se tornam pistas de corrida. Passando pelo píer, subindo as encostas, atravessando o túnel e fazendo muitas voltas, o circuito não deve ser nada fácil para os pilotos. As ruas são estreitas e existem muitas subidas e curvas. A Fórmula 1 é tão marcante no Mónaco que até o Brasileiro Ayrton Senna era conhecido como Príncipe de Mónaco (sabiam desta? Aprendi no Brasil!). Actualmente, muitos artistas e personalidades internacionais possuem casas no principado. Não poderia ser diferente, já que o Mónaco alia glamour, riquezas e eventualmente, presumo, muito sexo!
SENTIMENTO DE EXCLUSÃO… Sigo em frente pela “Avenida D’Ostenle”, para poder chegar ao que ansiava: o Casino Monte Carlo! Parei ainda perto do Teatro da Princesa Grace, para poder desfrutar da bela vista que o Mónaco tem sobre a baía. Olho tudo em volta! E fecho os olhos, fazendo uma inspiração profunda, abro os braços para esta imensidão… é um verdadeiro privilégio ter estado e pisado este local. “É lindo!” – lembro-me de estar a pensar isto mesmo. É um cenário idílico, de luxo. Gente bonita pelas ruas, bem aprumados, boas casas, bons carros. Mônaco é o cenário perfeito para propaganda de automóveis. Foi onde eu vi mais Ferraris a desfilar, além de Rolls Royces, Bentleys e Maseratis, assim como motas Ducatti e Ninja super potentes. O ruído de motores já faz parte do som característico da cidade. E olhem que surpresa: os carros são, na maioria, dirigidos por mulheres! Abro novamente os olhos, e com um sorriso estampado no rosto, um iate chama-me atenção. Algo parecia-me a navio, com um helicóptero estacionado sobre ele! Dá para ter idéia do tamanho do barco...
Perante tal monstruosidade de vida olho, desgraçadamente, para mim. Agarrado a uma máquina digital emprestada, com umas botas de montanha já velhas e desgastadas na biqueira, um casaco apertado, o cabelo despenteado e a cara cheia de óleo devido às poucas horas de dormida na viagem. Uma mochila velha às costas, cujo fecho tem tendência para empanar, e um saco de plástico onde guardo os postais que comprei. Sinto-me, completamente, deslocado! Sinto-me um menino de rua, um gaiato, para quem ninguém olha, ou tem até mesmo medo de olhar. Mas, felizmente, NÃO SOU AQUILO QUE POSSUO MAS AQUILO QUE VIVO. E viajar permite-me, exactamente, isso: viver ao máximo, e conhecer novos mundos como este, totalmente contrário, ao meu, de pura simplicidade e humildade. Viajar permite-me, acima de tudo, priorizar valores, e saber o que é, realmente, importante, na minha vida. O luxo, é-me indispensável, acreditem! E aprecio bem mais um forte abraço cheio de sentimento, um jantar no chão de uma praça da cidade com amigos onde soltamos gargalhadas genuínas, uma noite a dançar loucamente até altas horas (ah, que saudades do meu Plateau), de dizer um bom dia ou uma boa noite a quem amamos, de dar um presente a um amigo sem razão aparente, de ter uma ideia genial e sonhar, de ser útil, de me dar e entregar aos outros, enfim… isto sim! Faz me mim aquilo que sou hoje…
Casino Monte Carlo - Mónaco
Chego por fim ao Casino de Monte Carlo. A dúvida assola-me. Será me que me deixarão entrar assim vestido? Eu próprio assusto-me ao olhar para mim… bem… “poderá ser impressão minha”, penso eu, numa tentativa frustrada de poder um dia conseguir entrar ali dentro. Olham-me de alto a baixo, e sinto um ligeiro sorriso para o lado direito da face do porteiro, levantando, ao mesmo tempo as sobrancelhas. Percebo imediatamente o que me quer dizer, e acaba por me dizer, de soslaio, que só poderei entrar no hall, onde também há umas pequenas e michurucas slots machines. Mesmo assim, agradeço-lhe encarecidamente, como uma criança feliz, e com um sorriso rasgado corro desalmadamente, a bater com os pés nas minhas nádegas, para as máquinas. ESTOU DENTRO DO CASINO!!!! E ali gasto os meus tostanitos. Fico feliz. Já não tenho mais dinheiro. Agora miro os outros… e lembro-me de estar a pansar “deves pensar deves”, quando uma quantidade de moedas sai dali de dento! Nem sabia que uma máquinazinha daquelas era capaz de suportar tanto peso e tanta moeda! Há que dizer que fiquei com uma pontinha de ciúme. E a sorte de principiante que tanto se fala? Bem… volto costas e continuei viagem… (obviamente que tive de tirar uma fotografia junto ao Casino, juntamente com os outros… tipo á pobre, estão a ver?)…

A ralé... armada aos cucos!

É no Casino Monte Carlo que a riqueza encontra o seu lugar. Vêem-se senhores milionários a sair com os seus carrões de luxo e a entrar no Casino. Quanto eles gastarão numa noite? É difícil imaginar, mas num lugar onde um apartamento de duas assoalhadas vale 4 milhões de euros, certamente não é pouco dinheiro que ali é colocado em jogo!!!

15.9.07

Estive na "CONA" em Ljubjana!!!

Estou em Ljubjana, capital da Eslovénia. Depois de ter passado a passagem de ano 2006/2007 na Croácia, parto então, de camioneta, em direcção à minha Lisboa, percorrendo várias cidades até lá. Atravesso a fronteira, e paro, em pleno Inverno, em Ljubjana, dia 1 de Janeiro 2007!!! Já é de noite. O autocarro estaciona ainda um pouco longe do centro da cidade. Cansado, por ser o percurso de viagem de regresso, custa-me querer ver mais uma cidade, e emaranhar-me na sua cultura. Quero antes dormir. Uma casa. A minha família. Um aconchego de uma mãe que nos prepara o nosso prato preferido após vários dias fora, e que nos faz a cama de lavado, para podermos sentir, facilmente, o cheiro a frescura, doce e suave de um, verdadeiro, amor: o de mãe.
Apesar do cansaço, do frio de rachar, e após, agasalhar-me com gorro, luvas e casaco quente, tento, já exaurido, percorrer uma nova cidade, mas sem antes me alimentar. Por isso, percorro ruas, sem ter mapas, até encontrar um local onde me sinta confortável. E encontrei! Uma pequena praça, toda iluminada com os enfeites de Natal, fazendo-me sentir um pouco todo o aconchego do natal de família que estava mesmo a precisar. Sento-me no chão junto a um canto, e ali mesmo, tiro da sacola os meus sumos, as minhas sandes vegetarianas, as frutas, e como sem pensar em nada. Ali me deixo estar, confortável, e aprecio. Vejo. Suspiro. Sinto simplesmente. E respiro o mundo.
Quero chegar até à praça central. Percorro ruas e mais ruas. Encontro outros que comigo fazem também esta viagem. Eis que se não quando, me deparo com um sinal de trânsito na rua que vai dar acesso à praça. Um sinal meio estranho. Estupefactos gargalhamos ao ler "CONA"... Será um sinal de proibido? De Obrigação... de ir à CONA? E acreditem que não sou nem estou a ser ordinário! Mas lá que nos rimos, isso é que rimos!!!
Ouvimos música vinda da praça. Com o chão meio escorregadio, por há horas atrás ter estado a chover, corro em direcção para onde todas as pessoas também se dirigem... vejo uma imensidão de gente. Pergunta: Que fazem estas pessoas dia 1 de Janeiro às tantas da manhã na rua, quando ontem é que foi a passagem de ano? Resposta estúpida imaginária: Talvez os Eslovenos só celebram a passagem de ano um dia depois de toda a gente! Não sei ao certo a resposta, mas pelo que me pude aperceber, penso que é ritual, estenderem a data de festejo por mais alguns dias.
Furo a multidão. Vou até perto do palco onde decorre um concerto, e aí, apesar do cansaço, a música consegue invadir-me e entranhar-se em mim. Salto, danço, canto. Fico rouco devido ao frio. E em alegria sincera, os "Portugas", como sempre, começaram a realizar o já habitual "comboio" de pessoas. Os Eslovenos, num desejo ardente de participarem na brincadeira, timidamente, olham-nos de soslaio. Alguns ainda se atrevem, outros permanecem no mesmo sítio: Impávidos e serenos.
"PORTUGAL"... respondemos nós quando a artista nos pergunta, directamente, de onde somos. E convida-nos então a dançarmos mais uma música. No meio de um mar de gente, olho para o lado e, inexplicavelmente, encontro um amigo de Lisboa, o qual já não via há muito tempo. Após alguns abraços (e também empurrões no meio do concerto), matamos saudades, mas minuto a minuto não nos cansávamos de exclamar: "Que coincidência! Encontrar-mo-nos na Eslovénia, num dia mais do que improvável... o primeiro dia do ano, e ainda por cima a esta hora tardia!!!". Sim... certamente se tivéssemos combinado, de certeza que não nos encontraríamos...
Já me doi tudo e mais alguma coisa. Estou de rastos, e cambaleando, percorro noctívegamente pela cidade. A cidade tem encanto. "É linda" - dou por mim a pensar. Contribuindo para tal, as luzes de natal que iluminam de forma especial os monumentos, o rio, as casas, e tudo o resto.
Sinto, verdadeiramente, Ljubjana como sendo uma cidade romântica, em que é possível, ao longo da marginal do rio, desfrutar de um belo passeio de mão dada. Vejo os outros de mãos dadas. E outros a iniciarem namoros. Olho para trás e vejo a Rita e o Guedes num encontro que não estava à espera. Fico também com vontade... mas sigo em frente, sozinho, e aprecio esta tranquilidade que esta cidade me transmite.
Sento-me na escadaria de uma das igrejas que ficam perto da praça central. Estou cansado. Ao meu lado vem também sentar-se, alguém da terra, já um pouco ao som da "copofonia". Estranho? O que quererá... penso eu. Começamos por conversar sobre a cidade. É um rapaz de 27 anos, de nome desconhecido. Comigo, permanece ali, e após um longo periodo de conversa "deita-fora", começou a surgir entre nós algumas das dúvidas, engraçadas, que sempre nos perseguiam. Anotei-as. Deixo-vos aqui algumas delas, após ter registado no meu caderno de viagens:
- Porque é que as lojas abertas 24 horas possuem fechaduras?
- Para que serve o bolso de um pijama?
- Se o Super-homem é tão inteligente, porque é que usa as cuecas fora das calças?
- Porque é que os Flinstones comemoram o Natal se eles viveram numa época anterior a de Cristo?
- Como se escreve zero em algarismos romanos?
- Porque é que as pessoas apertam o comando da televisão com mais força, quando a pilha está mais fraca?
- Como é que as placas "Proibido pisar a relva" é colocado?
Um momento bastante engraçado, e que desde já, proponho a quem conseguir desvendar alguns destes mistérios que me diga, com a maior brevidade possível. A minha saúde mental poderá estar em risco!
De facto, Ljubjana é uma cidade muito bonita. São várias as pontes que percorrem o rio Ljubljanica que banha e percorre toda a cidade, e as casas estão pintadas de várias cores, pintando de uma beleza única esta cidade.
A "ponte dos sapateiros" é a terceira passagem mais popular de Ljubljana sobre o rio. Anteriormente, esta era uma ponte de madeira, um espaço caracterizado para as oficinas dos sapateiros (daqui o nome). A ponte actual tem uma aparência distinta de todas as outras. Andei na sua plataforma e observei que dela fazem parte colunas de pilares altos, cobertos em cima com esferas de pedra. É uma das pontes mais percorridas e visitadas da cidade.
Tem, certamente, um encanto natural. Uma cidade pequena que, facilmente, aproxima e apaixona. Aproxima-nos e acolhe-nos na sua beleza e apaixona-nos porque nos emociona, e faz-nos vibrar, em nós, sensações de embalar tristezas, medos e anseios. Uma óptima cidade para desfrutar sozinho. Para pensarmos, meditarmos em novos rumos, em novos projectos, em novas prioridades, e naquilo que nos faz mover.
Estou cansado. E hoje mesmo regresso a casa. E sei que há minha espera tenho sempre alguém de braços abertos para me acolher. Mais uma viagem, e mais um "poema cantado que eu inventei" e pus a minha alma a cantar...
Castelo de Ljubjana
Rio Ljubjanica e Praça Central

10.9.07

Turismo de Montanha | Serra da Lousã: Onde os Sentidos Despertam

Este foi sem dúvida mais um fim-de-semana de riqueza turística. Partida, sexta-feira ao final do dia, após uma semana cansativa de trabalho. Local de encontro: Sete Rios. Total de Acompanhantes: 17 pessoas. Estadia: 3 dias (7 a 9 de Setembro) A Serra da Lousã fica situada no centro de Portugal. Um verdadeiro ex-libris de beleza paisagística natural, onde o verdejante e os espaços naturais se fazem presentes. Lousã, apresenta-nos a sua rusticidade própria. Faz-nos respirar diferente. Faz-nos sentir diferentes. Encanta-nos, verdadeiramente, e deixa-nos “exauridos” de tranquilidade. A noite está quente. Todos já dormem nas respectivas camaratas, depois de uma noitada de guitarrada, onde a meu pedido, se cantou exasperadamente a mesma música. Sou assim… sempre que gosto de algo novo, apaixono-me de tal modo que não me canso de ouvir ou repetir as mesmas sensações. Foi bom o momento. (os outros é que já não podiam comigo!!!)… Perante um cenário de verdadeira beleza, que é a Serra da Lousã, fico, então, com vontade de aproveitar cada momento, apesar de já ser noite. Sento-me ao ar livre com a minha prima. Há poucas luzes. Todos dormem. Não há um único barulho. Apesar do cansaço que a semana de trabalho nos proporcionou, tentamos apreciar a beleza que reside em cada coisa. E a noite tornou-se mais bela, porque surgiram confidências que nos aproximaram ainda mais na nossa amizade e irmandade. Confidências que me marcaram e que me fizeram perceber, que por trás de um lado aparente de felicidade, pode-se esconder sofrimentos e tristezas. Momentos de vida trilhados em solidão. Situações que nos deixam em becos e que marcam uma cegueira incapaz de nos deixar vislumbrar uma pontinha de luz, capaz de nos dar a direcção de um caminho a seguir, mesmo que errado. E, ás vezes, ali permanecemos à espera de resposta de alguém. De uma pequena ajuda, ou simplesmente, que alguém se dê conta que estamos numa verdadeira encruzilhada. E que nos pergunte algo. Há momentos das nossas vidas em que não sabemos que velas içar do nosso barco, porque também nós não sabemos que ventos poderão soprar: os do Norte ou os do Sul? E isto tudo porque, não sabemos para que porto seguro nos dirigir. Um barco sem porto, não sabe o que são ventos a favor nem ventos contra. Anda simplesmente à deriva… Terminámos de conversar eram já próximo das 4 da manhã. Os outros continuam a dormir. Entramos na camarata e sem fazer barulho vamo-nos deitar. Ouvimos uns barulhos estranhos. Meu Deus! Alguém está em festa!... em festa intestinal. Rirmo-nos contidamente para não acordar ninguém. E para estar completo o ramalhete faltava apenas alguém tocar castanholas e bater palmas, porque o resto da sonoridade era idêntica a qualquer música popular portuguesa… Subo para a parte de cima do beliche. Ponho o despertador e adormeço logo de seguida. O despertador toca. Já é de manhã. Ainda meio ensonado, sentimos que estamos diferentes. Mas não sabemos em quê. Descobrimos quando nos olhamos ao espelho da casa de banho. Estamos inchados das picadas das Melgas! Esquecemo-nos de colocar repelente e hoje sim, sentimo-nos, uns verdadeiros monstros de Notre-Dame ou do Lago de Loch Ness… É fim de semana… mas mesmo assim, a “Isabel estecada”, como lhe chamamos, faz jus ao nome, e estica os lençóis da sua cama até à exaustão, repuxando-os com galga e força. A cama fica IMPECÁVELMENTE feita. “É fim-de-semana” – dissemos nós. “Não te preocupes com isso”. E rimos e gozamos com ela. “É estecada, o que é que se há-de fazer”… Emaranhamo-nos pela Lousã. Por entre aldeias serranas (Beiçudos, Fonte da Pulga entre outras) descortinamos paisagens magnânimes. Acabámos por desembocar nas Ermidas de Nª Sª da Piedade, onde aí permanecemos durante toda a manhã. É um local mágico, localizado no centro de alguns vales e montanhas, cujas várias tonalidades de verde, fazem do local, um tesouro turístico. O rio límpido corre devagar por entre rochas de Xisto. Todo aquele lugar está desenhado com pedras xistosas, castanhas, lisas, reluzentes e que formam uma pequena piscina fluvial. A Ermida tem um enquadramento harmonioso de património edificado: rio e floresta. O recanto das piscinas é abraçado pela serra por todos os lados. Mais do que um vale é quase uma "cova" de verde cavada na encosta da montanha. A água está gélida, mas mesmo assim, aventurámo-nos em banhocas gostosas, depois de molharmos, primeiramente, o dedo grande do pé, para testar a temperatura da água. Se ficarmos em silêncio, ouvimos o som da água em pequenas cascatas que chega até nós. Se fecharmos os olhos, sentimos o cheiro a pureza, de uma realidade contrastante com a da cidade. Olho para o rio e vejo as pedras no seu fundo. O manto verde respira uma aragem fresca que torna agradável a permanência no local.
Acabo por tomar um café junto ao rio, e enquanto observo as brincadeiras de parte do grupo, dentro da piscina, lembro-me de estar pensar, no quão é importante vivermos intensamente a vida. Todos estes momentos. Há que viver. É tempo. E ele urge… Música Celta… ouvi algures. Fiquei atento. Ela aproximava-se. Fomos ao encontro dela. Um grupo de um rancho folclore, composto unicamente por homens, senhores já de uma certa idade, passeavam-se pelas ruas a tocar. Com tambores, rufos, e gaita de foles juntámo-nos à folia da festa, e ali mesmo, no meio da Serra, tivemos um Workshop de Gaita de Foles. “Tens de colocar esta parte debaixo do braço, agora isto colocas na boca e assopras, controlas o ar com o braço e tocas nesta outra parte como se fosse uma flauta”. Uma explicação simples, na verdade. Mas que concretamente, na prática, foi desastrosa, capaz de colocar todos aqueles que nos estavam a ver a rir desalmadamente. O som que unicamente conseguia que saísse era um som que se assemelhava ao de bufas esvaídas que sem força vão saindo… tentei uma e outra vez. Mas por fim desisti. Devolvi o pertence de foles ao dono, e com a música “os peitos da cabritinha” do Brejeiro Quim Barreiros, foram-se embora. Música Celta? Onde está a parecença? Bem… talvez tenha sido eu que tenha ouvido mal… Da parte de tarde emaranhámo-nos ainda mais na luxuriante vegetação. Inicialmente estava previsto um percurso pedestre de 10km… Alguns partiram, e conseguiram realizá-los. Preferi, à última da hora, algo mais ligeiro, e para mim, com mais significado. Juntamente com a Vanda e a Rita, percorremos menos quilómetros, sem dúvida. Mas o sabor desta caminhada não esquecerei jamais… Sem pressas fomos caminhando e apreciando cada recanto. Ao subirmos encostas e por entre o mato vegetativo denso, conseguimos encontrar o Castelo Medieval de Arouçe. O Castelo é uma fortificação construída no alto de um dos montes da serra, com uma vista privilegiada e estratégica. Trata-se de um castelo de defesa com uma torre principal maior do lado direito e algumas menores do lado esquerdo. O Castelo de Arouce, também conhecido por Castelo da Lousã, remonta a 1080. Os trabalhos de consolidação e restauro mantiveram o monumento em bom estado de conservação até aos dias de hoje, preservando-o numa paisagem florestal, que relembra os primórdios da nacionalidade portuguesa. Não conseguimos entrar, porque o acesso está bloqueado, mas, cá do alto de um outro recanto montanhoso, conseguimos por fim apreciar a sua beleza.
Continuámos a subir até ao cruzeiro. Com dificuldade, e sempre passo a passo, no sentido de ajudar a Rita, lá fomos nós. Parámos algumas vezes para descansar. Tentei inclusive iniciá-las nos Pránáyámas do Yôga, de forma a sentirem a respiração consciente num local maravilhoso como aquele. Era um local perfeito para tal. Contudo, em vez de nos concentrarmos, começámos a aparvalhar e rir com vontade ao ponto de nos engasgarmos. Já com a mão na barriga e nas maçãs dos rostos, e após 3 ou 4 tentativas desconcertantes, acabámos por não continuar. Mas ali permanecemos a ouvir as histórias hilariantes da Rita. Sim… quando digo hilariantes é mesmo esse sentido que quero dar à coisa… Histórias de merda literalmente! Memorável…
Mas a Serra da Lousã tem algo de especial que ainda não sei bem o que é. Talvez seja as maravilhosas e exuberantes paisagens, algumas de cortar a respiração pela sua beleza e magnitude. Paisagens vistas de escarpas altivas, a cujos pés se destacam as piscinas fluviais, cuja outra margem se encontra marcada pela existência de um morro encimado pelo castelo medieval. Talvez seja também a simplicidade com que se apresenta a todos os caminhantes e “descobridores do mundo” que por ali passam e vasculham cada recanto… ou talvez tenha sido a companhia. Os colegas e companheiros de partilha e caminhada… talvez… Mas uma coisa é certa: é que cada momento, local, espaço, encanta. Deixa-nos não em estado de êxtase, como se de uma beleza arrebatadora se tratasse. Não! É antes uma beleza que nos transmite uma tranquilidade e serenidade profunda. Simplesmente, deixa-nos em paz. Transmite-nos isso mesmo. Momentos connosco próprios, que nos fazem reportar à reflexão pessoal, à consciência da vida, dos outros e do mundo. Dos caminhos a trilhar e seguir, dos valores pessoais a manter. Lousã hierarquiza-nos as prioridades da vida. Faz-nos pensar que o dinheiro, os bens materiais e a “imagem a manter” na sociedade são valores tão redutores e limitativos. Lousã faz-nos crer que a vivência na simplicidade torna-nos mais humanos, e aí conseguimos descobrir brilho em tudo o que vemos, sentimos, cheiramos, degustamos e presenciamos. Porque nos faz pensar. Porque nos faz ver. Porque nos faz sentir e acreditar que ser diferente num mundo igual, faz de nós pessoas tão especiais, únicas e intrinsecamente mais belas. Lousã tem este encanto: o de despertar em nós sentidos…