19.5.09

Rir às Altas Gargalhada na Isla Mágica!

Ir a Sevilha e não ir à Isla Mágica, seria o mesmo que ir a Paris e não ver a Torre Eiffel! Mesmo estando a participar no encontro de Taizé, não pude deixar de ir a este parque temático de diversões que ocupa uma parte do que foi a antiga Expo 92 (área que hoje está quase deserta e entregue ao total abandono), apenas por umas horas.
A decisão fez-se ali na entrada. - "Entramos ou não entramos?" - pergunto eu. Sabemos que para pagar meia tarde, em época baixa, custa 18 euros. Sabemos, também à partida, que não dispomos, na realidade, de meia tarde completa por nossa conta, apenas algumas poucas horas. Mas a decisão foi rápida: "Sim, vamos lá!".
A entrada na Isla Mágica
Mal entramos começamos a perceber que a Isla Mágica é uma pequena ilha no coração da cidade onde, seguramente, podemos viver um mundo de magia, emoção e de diversão. São espaços e áreas temáticas apaixonantes, com atracções, jogos, magníficos restaurantes e lojas, tudo num só sítio: aqui!
Como não dispunhamos de muito tempo, fizemos questão de seleccionar a variedade de actividades e diversões para realizar. Abrimos o mapa e começamos a delinear a nossa "pequena viagem" dentro do recinto da Isla Mágica, ficando acordado que iriamos apenas participar nas diversões com maior impacto. E foi, exactamente, isso que aconteceu: Impacto!
O primeiro local a que nos dirigimos foi o chamado "El Desafio", uma espetacular queda livre de 68 metros de altura. Imaginem-se, sentados, a subir rápidamente, conseguindo lá de cima olhar para parte da cidade de Sevilha, e que de um momento para o outro te soltam. Bemmmm... um formigueiro na barriga que só nos apetece gritar à medida que nos aproximamos do chão e que sentimos que a máquina não vai parar! Algo estonteante! A adrelanina ao rubro! Saímos de lá a vibrar em estado de histeria junto da Claudia que ficou cá em baixo a filmar tudo!!!

"El Desafio" - Queda livre de 68 metros. Loucura total! Uma das outras actividades a que fomos foi ao chamado "Ciklón". Uma sensação de vertigem a deslizar por 14 metros de altura e a rodar a toda a velocidade. A Claudia, mais uma vez queria-se desmarcar de mais uma adrenalina, pelo que tivemos que lhe dizer meias-verdades e "este" não custava assim tanto! Haviam de a ver a gritar, com os cabelos ao vento, a praguejar e a realizar promessas de morte a todos nós! Lindo!

A maioria das diversões que existem no parque são de água. Andámos na "Anaconda", uma montanha russa de água sob troncos com vertiginosas quedas de 7, 12 e 16 metros. Nesta, a Claudia foi por livre iniciativa. Mas adorei vê-la benzer-se meia dúzia de vezes, enquanto batia três vezes na madeira, ao mesmo tempo que fazia figas.

Mas uma das minhas actividades de àgua preferidas foi, sem dúvida, o "Iguaçu", uma descida de rafting pelas cataratas de Iguaçu a mais de 50km/h. Na realidade, ia voando! Fiquei na parte de trás do barco e leve como sou, se não me segurasse... lá ia eu!! No final, suspeito que, de todas as 25 pessoas no barco, se 2 ficaram sem se molhar... foi muito! Acabamos na totalidade com as roupas encharcadas e o cabelo a escorrer!

A bordo de um bote pneumático andámos também quase 500 metros de rafting no "Rápidos de Orinoco", onde já na saída apanhamos mais molhas de uma catarata, na qual passamos por baixo dela.

"Rápidos de Orinoco" No entanto, de todas as actividades, a que mais me apaixonou, surpreendeu e me amedrontou foi o "Jaguar". Uma infindável montanha russa suspensa com giros de 360º. Enquanto esperamos na fila pela nossa vez, ouvimos gritos estrondosos de pânico e pavor dos que seguiram à nossa frente. Vemos as voltas e a velocidade a que os carris da montanha russa andam. Fico a rir-me de nervos. Olho para a Ana e para o Nuno, e riem-se também. Sei que são de nervos. Ainda, por momentos, ponderamos em conjunto desistir mesmo à última da hora. Mas nenhum de nós quis dar parte fraca, apenas a Claudia, mais uma vez ficou (e muito bem) no lugar dela... fora das actividades.

Levo comigo, às escondidas, a minha fiel e companheira máquina fotográfica para registar este momento surpreendente através de video.

O grupo no "Jaguar" Gritos. Euforia. Histeria. Loucura. Berros de pavor. Berros de risos descontrolados. Medo. Pânico. São, talves, estas as palavras para descrever aquela sensão que demorou menos de 60 segundos, mas que lá em cima me pareceram uma verdadeira eternidade. Aterrorizado, e agarrado com todas as força que possuia à grade de protecção, gritei até não poder mais esvaindo-me na voz e sentindo-se na glote que vibrou como nunca!!!!

Só mesmo a minha filmagem para nos fazer chorar a rir até às 2 da manhã, a ver em modo de repetição, durante mais de 2 horas seguidas. MUITO, MAS MUITO BOM!!!

Nós molhados e a gargalhar na "Anaconda"

E Isla Mágica é isto mesmo. Diversão pura. Surpresa no seu melhor. Um sentimento de dinheiro bem aproveitado. Uma verdadeira terapia pelos sentimentos. Gargalhadas genuinas e medos contidos. Uma mistura de emoções que fazem deste parque uma óptima lembrança de quem não se importaria de repetir uma nova visita, agora com mais tempo!

Na cultura do "portuga", o adulto não tem direito a divertir-se assim. E quem o faz é considerado imaturo. Por isso, não existem parques temáticos. Felizmente, mesmo aqui na nossa vizinha Espanha a tradição é outra! Vive-se desreprimido! Por isso, se alguém for rico e quiser ser um bom samaritano, POR FAVOR, construa um aqui em Algés! Havia de ser fins de semana lotados de gargalhada!

14.5.09

Y Vivir Sevilla. Olé!!!!

Depois de um pequeno-almoço na família de acolhimento, apanhamos o comboio e o metro para podermos chegar até ao centro da cidade. Sevilha, a capital da Andaluzia é uma cidade aristocrata, mas descontraída com uma herança cultural fabulosa e antiga que remonta a tempos imemoriais. O seu destino esteve sempre ligado ao Rio Guadalquivir (“o grande rio” em árabe) e ao grande comércio que ele oferecia à cidade.
Sentados numa esplanada da conhecida Avenida de la Constituition, uma das ruas principais e movimentadas da cidade - que se inicia na praça Porta de Jerez (onde aí existe uma fonte lindíssima) e termina um pouco mais para lá da Catedral, junto à Câmara Municipal – tomamos o nosso café mesmo antes de podermos visitar a cidade, com o pouco tempo que nos resta, por entre orações, encontros e workshops. Monumentos imponentes e orgulhos fazem parte da cidade. Depois de 500 anos de cultura islâmica, Sevilha foi conquistada pelos cristãos, em 1248. Em 1401 foi decidido erguer-se no mesmo local que a mesquita uma nova catedral de proporções sem precedentes, sendo hoje, a Catedral de Sevilha, a maior igreja cristã do mundo!!!, estando no livro do record do Guiness.
Catedral de Sevilha
O melhor local para observar é a La Giralda, símbolo de Sevilha. O nome vem de um cata-vento no topo, designado El Giraldillo. La Giralda A “porta do perdão” é a principal entrada para a única secção sobrevivente da mesquita. O arco e as portas cobertas de bronze estão cobertas com 880 inscrições do corão. O Alcazar, um magnífico palácio-fortaleza criado por monarcas cristãos e muçulmanos, situado junto à catedral, bem como o Arquivo das Índias, são outros monumentos, como a Catedral e a La Giralda, declarados Património da Humanidade, verdadeiros exemplos das jóias da capital da Andaluzia. Porta do Portão_Catedral de Sevilha Sevilha sente ainda, quer na sua arquitectura, quer na sua cultura, os efeitos de toda uma herança Árabe. E na deslocação até à Praça Del Salvador, onde nos reunimos para podermos participar numa oração comunitária que reuniu jovens de vários países, observo que a alma do flamenco pulsa nesta cidade de estilo e atmosferas muito próprias. Igreja del Salvador
Os ciganos chegaram à Andaluzia no século XV e desenvolveram um estilo único de música, o flamenco, inspirado em fontes árabes, judaicas e bizantinas, bem como nas suas próprias tradições indianas. As danças sevilhanas fazem parte, exactamente, do espírito flamenco. E pelas ruas da cidade surgem várias actuações. Gente cigana ou de ascendência cigana participa neste tipo de actividades pelas praças e pequenos pátios onde público transeunte, como eu, se aglomera à sua volta, observa e, simplesmente, aplaude entusiasticamente as performances improvisadas que surgem naturalmente.
Actuação de Sevelhinas nas ruas
Sevilha é também conhecida como sendo a capital das tapas. E ao chegar à Praça Del Salvador, observo o espectáculo de multidões alegres que percorrem a rua e petiscam de bar em bar por entre os milhares que Sevilha possui. É tradição que antes do almoço ou jantar se coma tapas, como aperitivo: azeitonas, chouriço, presunto, marisco, cogumelos, croquetes, almôndegas, enquanto se bebe uma ou mais cervejas.
O pessoal nas Tapas_Praça Del Salvador
A estadia é curta nesta cidade. Uma vez que vim participar de um encontro ecuménico, desta vez, por questão de tempo, preferi apanhar um autocarro turístico por 15€, para me levar, em menos de nada, a visitar a cidade que não tenho tempo para a conhecer. Nesta viagem, acompanharam-me o Nuno, a Ana e a Cláudia. Subimos para a camioneta, colocamos os auriculares nos ouvidos e com o mapa aberto fomos conhecendo a cidade. A viagem “chata” que se avizinhava tornou-se numa viagem super divertida. Em cima da camioneta, metíamo-nos com os residentes de Sevilha, acenávamos com os braços e o engraçado de tudo é que obtínhamos sempre resposta. Gente engraçada e com espírito aberto. São, certamente! E nós? Riamo-nos!
Partimos da Torre Del Oro – imponente torre de vigia com 12 lados mourisca do séc. XIII. Devo o seu nome às telhas douradas que a adornavam em templos. Outros dizem que o seu nome deriva do seu uso como armazém para ouro no apogeu de Sevilha.
Torre del Oro
Seguimos adiante por toda a cidade, ficando-me na memória a famosa Praça de Espanha, uma praça semi-circular que foi projectada como o centro da exposição Ibero-Americana de 1929. Está completamente coberta de azulejos lindíssimos que ilustram momentos históricos e símbolos das 40 regiões de Espanha. Este mesmo local foi usado como cenário do filme “A Guerra das Estrelas: Ataque aos Clones” por não parecer deste mundo.
Praça de Espanha
Nesta pequena viagem passamos, também, pelo Bairro de Triana, uma bairro castiço, formado por prédios pintados de várias cores cujas janelas se tornam originais pelos seus rolos de “tapete” a servirem de persiana. Era aqui neste bairro que, antigamente residiam a maioria da população cigana, nascendo nele grandes dançarinos de flamenco e toureiros.
Janelas típicas do Bairro de Triana

11.5.09

Os Companheiros de Casa em Sevilha

Parti para mais uma viagem. Desta vez a viagem foi para além da realidade turística, indo de encontro ao aprofundamento de mim mesmo. Parti para, os já conhecidos, encontros internacionais de Taizé. Este ano, o encontro realizou-se em Sevilha – Espanha, entre os dias 08 a 10 de Maio. Taizé é uma pequena comunidade ecuménica situada no sul da França onde, anualmente, é visitada por milhares de jovens provenientes de todos os 4 cantos da terra, para procurarem uma experiência do encontro com o outro, a partilha e aprofundamento da fé. Esta pequena comunidade realiza pequenos encontros em algumas cidades europeias. Este foi mais um deles. Parto, então, com uma amiga – a Cláudia. São, precisamente 5h30m e estamos junto à estação do Oriente, em Lisboa, onde outros jovens como nós se vão, a pouco e pouco, juntando ali, no local combinado, para partirem rumo a Sevilha, de camioneta. Ali mesmo reencontramos outros amigos que já não os vemos desde a participação em outros encontros anteriores, começando desde já, uma reaproximação necessária para uma viagem como esta.
O grupo do Autocarro
A viagem até Sevilha fez-se de forma agradável e descontraída. O problema começa à chegada da cidade: o motorista não consegue encontrar o local de acolhimento dos jovens, fazendo-nos ficar perdidos por mais de 2 horas seguidas. As informações trocadas dos residentes fazem-nos atrasar ainda mais a nossa chegada. Sevilha recebe-nos com um calor que ronda os 35º, valor este que difere (e em muito) com o sentido em Portugal (22º) nos últimos dias, sentindo esta diferença de temperatura na roupa que vestimos e que rapidamente se cola ao corpo. Como é habitual neste tipo de encontros, após o acolhimento inicial o grupo foi dividido por várias paróquias da cidade, sendo que depois nestas nos distribuem por casas de famílias que nos recebem dando-nos um espaço no chão para dormirmos, algumas refeições e alguma da sua simpatia.
Ficamos, então, instalados em “Dos Hermanas”, uma região a 12kms do centro de Sevilha, aproximadamente a 45minutos. Eu e Cláudia partilhamos, então, a casa com mais 3 outros jovens que nos acompanharam na viagem. Os companheiros de casa O Nuno e a Ana Isabel são um casal que namora já há 3 anos. Chegaram ontem de férias na ilha da Madeira, estando hoje já em Sevilha para, também eles, participarem no encontro. Ela, arquitecta de profissão, reside na região de Sintra. Ele, jogador profissional de Voleibol, reside no Porto. Partilho com eles um pouco das dificuldades que sentem para manterem a relação à distância estável. Vão-me confidenciando que não há um único fim de semana que não se vêem. Ambos fazem esforços constantes e fico fascinado ao olhar para os dois. Apesar dos anos de namoro parecem falar com o mesmo sentimento de paixão que caracteriza qualquer relacionamento inicial. - “Ás vezes faço 3 horas de carro até ao Porto apenas para o ver jogar, estando, efectivamente, muito pouco tempo com ele. Depois retorno a Lisboa no mesmo dia” – referia a Ana. Isto tudo porque o Nuno tem treinos diários aos dias de semana e jogos aos fins de semana, o que deixa muito pouco tempo para estarem juntos. Falamos de tudo isto durante o jantar numa pizzaria próxima à casa onde ficamos alojados. Durante o jantar o Nuno diz-me que está a pensar sair da sua cidade natal, onde tem todo um passado e vivências realizadas, para poder vir para Lisboa no sentido de estar mais próximo de quem realmente ama.
Na pizzaria perto de casa em "Dos Hermanas", Sevilha Em casa ficou também outro jovem. O David, um rapaz de 20 anos de idade e com uma maturidade incrível. Músico de profissão, homossexual assumido e sem vergonha de tal, vegetariano convicto e, sem dúvida, um activista político que luta na defesa dos direitos das pessoas na área da igualdade de género.
O David, freack no estilo e na maneira de se vestir, é um jovem determinado. Intimida-se com pouco e parece viver de acordo com as suas crenças e convicções. Faz parte a uma associação activista, em Lisboa, e trabalha voluntariamente com mulheres prostitutas e, especialmente, transexuais. Do nosso grupo é o mais novo, havendo diferenças de 10 anos entre nós. Mas é, também, entre todos aquele que vive a sua vida como sendo um verdadeiro livro aberto. Sem puderes aparentes, diz o que pensa, o que sente e o que vive.

A dormida no chão

A dormida no chão da casa onde ficamos instalados faz-se em colchões improvisados pela família. A nossa mãe de acolhimento, de nome Carmen, médica de profissão, e o nosso pai, pedagogo, trabalham no piso inferior da casa. Ambos criaram um serviço de Psicopedagogia para crianças com problemas ao nível escolar. Disponibilizaram-nos o espaço de trabalho para pernoitarmos durante as 2 noites que iremos permanecer pela cidade.

O grupo com a família de acolhimento

Já é tarde. Já estão todos a dormir. Sou o último a fechar as luzes. Deito-me ao lado da Cláudia, fechando o saco cama e apoiando a cabeça na almofada improvisada com algumas roupas. Um dia em cheio este. Parceiros e amigos de casa com quem partilho este dias ensinam-me pela sua postura perante a vida. Aprendo, então, que o “amor” (da Ana e do Nuno) e a “determinação” (do David) são 2 ferramentas para progredirmos enquanto ser humano que deseja alcançar a perfeição. O amor porque nos impele e ir de encontro ao que mais queremos, fazendo-nos, diariamente, ultrapassar barreiras e situações concretas no dia a dia e que pensamos serem insuportáveis de se sustentarem. E este amor impele-nos a realizar coisas, como a Ana faz, sentidas como “loucura” pelos outros que nos observam.

A determinação, é outra ferramenta que o David me ensinou a utilizar, que necessariamente alimenta o amor na defesa de ideais nobres para uma sociedade mais justa e igualitária, para a conquista das liberdades e para podermos ser, simplesmente, quem somos, sem qualquer tipo de máscaras!