5.8.07

Alfarim, Meco e Sesimbra... Terras do Encontro

Fotografia de Jorge Cabral_Tunísia
Mais uma viagem interior percorri, ao percorrer também uma viagem que, geograficamente, se encontra perto da minha realidade social. Fomos até Alfarim, Aldeia do Meco e Sesimbra, e compreendi que não é preciso, então, viajar para longe para descobrirmos que podemos viajar kilómetros dentro de nós mesmos. Um fim-de-semana especial, que certamente irá criar mais uma tatuagem que marcará o meu espírito. E o que o tornou assim de tão especial? Talvez a predisposição para poder absorver tudo o que tinhamos para aproveitar, na mais pura e simples tranquilidade, sem esforço, sem inquietações, nem interrogações ou questionamentos. Apenas, sentirmos o Universo na sua mais bela plenitude. E aqui estou eu: feliz, confiante, seguro. Combinações de última hora. Procura de um lugar para passar o fim de semana fora. Pesquisas na net. Contactos telefónicos. Horários marcados. Atrasos na partida devido aos encontros desencontrados. Pomo-nos, por fim, em viagem, ainda em surpresa sem saber bem para onde ir. Isto porque é Surpresa! Chegamos, enfim, já tarde, devido, também, a mais um encontro desencontrado: a “psico” da gerente do empreendimento turístico percorre, afincadamente, o mesmo percurso à nossa procura. Permanecemos no local combinado, observando-a a dar voltas de carro. Coitada! Não pára para pensar que basta apenas desviar o olhar para dar de caras connosco. É o que acontece com muitos que fixam apenas um caminho para percorrer. Basta alargar horizontes, contemplar o nosso mundo para ver novas realidades. Tivemos de ser nós a ir ao seu encontro. No “paraíso” ela mesma quer fazer-nos acreditar que estamos dentro dele. “beautiful, beautiful – é o que dizem os estrangeiros que por aqui passam” – retorque a mulher, convencendo-nos de uma paisagem maravilhosa que se estende à nossa frente, agora inobservada devido á penumbra da noite. Não queremos paisagens “beautifuls”. Apenas um canto, um espaço, um pequeno mundo chega-nos para podermos desfrutar de “momentos beautifuls”. E é isso que fazemos. Aproveitar. E percebemos ao amanhecer que de “paraíso” nada tem a paisagem. Mas construímo-lo nós! E ela não se apercebe! Percorremos o centro de Alfarim. Comemos qualquer coisa num tasco qualquer para poder enganar a fome. Dorme-se já tarde. E levanta-se ainda mais tarde. A praia do Meco espera-nos. Lê-se, come-se fruta e bebe-se água. Alguns mergulhos no mar, outros de sol. E assim se passa lentamente o dia. Feliz. Tranquilo. Cruzam-se olhares. Trocam-se afectos. Ouvem-se coisas bonitas. Á noite passeia-se por Sesimbra. Ao fundo ouve-se música. Ignoramo-la, assim como o maranhal de gente que se encontra na avenida. Sentados observamos, criticamente, quem passa. Damos pontuações á moda, e ao desuso; ao novo e ao velho; ao bonito e ao feio. Somos maus e feios! Sabemos disso! Mas rimo-nos. Somos parvos e tontos. Mas estamos felizes. Sentamo-nos, por fim, nas cadeiras da esplanada. A música persegue-nos. Vem aí o trio elétrico “bigodes de rato” que caminha lentamente pela avenida… a euforia toma conta daquela gente que segue o carro. Todos dançam. E observamos. Cantamos com eles. E batemos os pés no chão ao som do ritmo da música. Que bom ver gente feliz! Agarro a minha cerveja sem álcool, e brinda-se. A tudo. E a nós. Não são precisas palavras. O olhar basta. E sorrimos. Somos, sempre, seres incompletos, e ao logo da vida todos sabemos que nos falta sempre algo, embora nunca ninguém saiba ao certo, exactamente, que “algo” é esse. Procuramos sempre mais do que temos e somos. Sim, descobri! Descobri que TODOS têm anseios. Todos querem mais. O que julgamos pensar e acreditar, de tão único e criativo, outros já o pensaram ou estão em processo de construção dentro do seu mais íntimo. E como diz um amigo meu: “Somos uma espécie de agentes construtores dos mesmos sonhos, das mesmas necessidades, dos mesmos interesses e dos mesmos objectivos, que é viver e procurar viver”. É verdade! E então, o que nós julgamos como único, um dia alguém já o tornou também único… Também outros querem amar e ser amados. Querem entregar-se. Querem afectos. Sentirem-se especiais. Estes são, verdadeiramente, os sonhos, as necessidades e objectivos de todos. Aprendi neste fim-de-semana, que ao estarmos, simplesmente, disponíveis para o outro, muitas vezes isso faz milagres, transforma, toca, chama, faz vibrar e mexer nas profundezas onde vivem as dúvidas e a neblina. Mas este não é um processo de caminho de sentido único. Há sempre um sentido de inversão de marcha. E transformamo-nos também. Aprendemos a acreditar, a confiar, a sonhar, a projectar o futuro, mesmo que, temporariamente. Quero gritar, livremente, ao infinito, que na partilha profunda de emoções, se encontra a paz e a tranquilidade! Por isso, entreguem-se, emocionem-se, riam-se, libertem-se, surpreendam-se uns aos outros… simplesmente: Vivam! Eu vivi… e, assim como eu, sei que tu também viajaste Kilómetros dentro de ti... ; ) As dores de costas? Talvez venham daí..

Um comentário:

ismael disse...

Ai as dores de costas... são reflexos! Mas eram dispensáveis... Mas olha, que já as tinha esquecido. Alíás, a dor não marca presença no meu "caderno de viagens". Guardarei os sorrisos, o calor, os aromas...o beautiful! e seguirei em frente! Obrigado compañero!