Este foi sem dúvida mais um fim-de-semana de riqueza turística. Partida, sexta-feira ao final do dia, após uma semana cansativa de trabalho.
Local de encontro: Sete Rios.
Total de Acompanhantes: 17 pessoas.
Estadia: 3 dias (7 a 9 de Setembro)
A Serra da Lousã fica situada no centro de Portugal. Um verdadeiro ex-libris de beleza paisagística natural, onde o verdejante e os espaços naturais se fazem presentes. Lousã, apresenta-nos a sua rusticidade própria. Faz-nos respirar diferente. Faz-nos sentir diferentes. Encanta-nos, verdadeiramente, e deixa-nos “exauridos” de tranquilidade.
A noite está quente. Todos já dormem nas respectivas camaratas, depois de uma noitada de guitarrada, onde a meu pedido, se cantou exasperadamente a mesma música. Sou assim… sempre que gosto de algo novo, apaixono-me de tal modo que não me canso de ouvir ou repetir as mesmas sensações. Foi bom o momento. (os outros é que já não podiam comigo!!!)…
Perante um cenário de verdadeira beleza, que é a Serra da Lousã, fico, então, com vontade de aproveitar cada momento, apesar de já ser noite. Sento-me ao ar livre com a minha prima. Há poucas luzes. Todos dormem. Não há um único barulho. Apesar do cansaço que a semana de trabalho nos proporcionou, tentamos apreciar a beleza que reside em cada coisa. E a noite tornou-se mais bela, porque surgiram confidências que nos aproximaram ainda mais na nossa amizade e irmandade.
Confidências que me marcaram e que me fizeram perceber, que por trás de um lado aparente de felicidade, pode-se esconder sofrimentos e tristezas. Momentos de vida trilhados em solidão. Situações que nos deixam em becos e que marcam uma cegueira incapaz de nos deixar vislumbrar uma pontinha de luz, capaz de nos dar a direcção de um caminho a seguir, mesmo que errado. E, ás vezes, ali permanecemos à espera de resposta de alguém. De uma pequena ajuda, ou simplesmente, que alguém se dê conta que estamos numa verdadeira encruzilhada. E que nos pergunte algo. Há momentos das nossas vidas em que não sabemos que velas içar do nosso barco, porque também nós não sabemos que ventos poderão soprar: os do Norte ou os do Sul? E isto tudo porque, não sabemos para que porto seguro nos dirigir. Um barco sem porto, não sabe o que são ventos a favor nem ventos contra. Anda simplesmente à deriva…
Terminámos de conversar eram já próximo das 4 da manhã. Os outros continuam a dormir. Entramos na camarata e sem fazer barulho vamo-nos deitar. Ouvimos uns barulhos estranhos. Meu Deus! Alguém está em festa!... em festa intestinal. Rirmo-nos contidamente para não acordar ninguém. E para estar completo o ramalhete faltava apenas alguém tocar castanholas e bater palmas, porque o resto da sonoridade era idêntica a qualquer música popular portuguesa… Subo para a parte de cima do beliche. Ponho o despertador e adormeço logo de seguida.
O despertador toca. Já é de manhã. Ainda meio ensonado, sentimos que estamos diferentes. Mas não sabemos em quê. Descobrimos quando nos olhamos ao espelho da casa de banho. Estamos inchados das picadas das Melgas! Esquecemo-nos de colocar repelente e hoje sim, sentimo-nos, uns verdadeiros monstros de Notre-Dame ou do Lago de Loch Ness…
É fim de semana… mas mesmo assim, a “Isabel estecada”, como lhe chamamos, faz jus ao nome, e estica os lençóis da sua cama até à exaustão, repuxando-os com galga e força. A cama fica IMPECÁVELMENTE feita. “É fim-de-semana” – dissemos nós. “Não te preocupes com isso”. E rimos e gozamos com ela. “É estecada, o que é que se há-de fazer”…
Emaranhamo-nos pela Lousã. Por entre aldeias serranas (Beiçudos, Fonte da Pulga entre outras) descortinamos paisagens magnânimes. Acabámos por desembocar nas Ermidas de Nª Sª da Piedade, onde aí permanecemos durante toda a manhã. É um local mágico, localizado no centro de alguns vales e montanhas, cujas várias tonalidades de verde, fazem do local, um tesouro turístico. O rio límpido corre devagar por entre rochas de Xisto. Todo aquele lugar está desenhado com pedras xistosas, castanhas, lisas, reluzentes e que formam uma pequena piscina fluvial. A Ermida tem um enquadramento harmonioso de património edificado: rio e floresta. O recanto das piscinas é abraçado pela serra por todos os lados. Mais do que um vale é quase uma "cova" de verde cavada na encosta da montanha. A água está gélida, mas mesmo assim, aventurámo-nos em banhocas gostosas, depois de molharmos, primeiramente, o dedo grande do pé, para testar a temperatura da água. Se ficarmos em silêncio, ouvimos o som da água em pequenas cascatas que chega até nós. Se fecharmos os olhos, sentimos o cheiro a pureza, de uma realidade contrastante com a da cidade. Olho para o rio e vejo as pedras no seu fundo. O manto verde respira uma aragem fresca que torna agradável a permanência no local.
Acabo por tomar um café junto ao rio, e enquanto observo as brincadeiras de parte do grupo, dentro da piscina, lembro-me de estar pensar, no quão é importante vivermos intensamente a vida. Todos estes momentos. Há que viver. É tempo. E ele urge…
Música Celta… ouvi algures. Fiquei atento. Ela aproximava-se. Fomos ao encontro dela. Um grupo de um rancho folclore, composto unicamente por homens, senhores já de uma certa idade, passeavam-se pelas ruas a tocar. Com tambores, rufos, e gaita de foles juntámo-nos à folia da festa, e ali mesmo, no meio da Serra, tivemos um Workshop de Gaita de Foles.
“Tens de colocar esta parte debaixo do braço, agora isto colocas na boca e assopras, controlas o ar com o braço e tocas nesta outra parte como se fosse uma flauta”.
Uma explicação simples, na verdade. Mas que concretamente, na prática, foi desastrosa, capaz de colocar todos aqueles que nos estavam a ver a rir desalmadamente. O som que unicamente conseguia que saísse era um som que se assemelhava ao de bufas esvaídas que sem força vão saindo… tentei uma e outra vez. Mas por fim desisti. Devolvi o pertence de foles ao dono, e com a música “os peitos da cabritinha” do Brejeiro Quim Barreiros, foram-se embora. Música Celta? Onde está a parecença? Bem… talvez tenha sido eu que tenha ouvido mal…
Da parte de tarde emaranhámo-nos ainda mais na luxuriante vegetação. Inicialmente estava previsto um percurso pedestre de 10km… Alguns partiram, e conseguiram realizá-los. Preferi, à última da hora, algo mais ligeiro, e para mim, com mais significado. Juntamente com a Vanda e a Rita, percorremos menos quilómetros, sem dúvida. Mas o sabor desta caminhada não esquecerei jamais…
Sem pressas fomos caminhando e apreciando cada recanto. Ao subirmos encostas e por entre o mato vegetativo denso, conseguimos encontrar o Castelo Medieval de Arouçe. O Castelo é uma fortificação construída no alto de um dos montes da serra, com uma vista privilegiada e estratégica. Trata-se de um castelo de defesa com uma torre principal maior do lado direito e algumas menores do lado esquerdo. O Castelo de Arouce, também conhecido por Castelo da Lousã, remonta a 1080. Os trabalhos de consolidação e restauro mantiveram o monumento em bom estado de conservação até aos dias de hoje, preservando-o numa paisagem florestal, que relembra os primórdios da nacionalidade portuguesa. Não conseguimos entrar, porque o acesso está bloqueado, mas, cá do alto de um outro recanto montanhoso, conseguimos por fim apreciar a sua beleza.
Continuámos a subir até ao cruzeiro. Com dificuldade, e sempre passo a passo, no sentido de ajudar a Rita, lá fomos nós. Parámos algumas vezes para descansar. Tentei inclusive iniciá-las nos Pránáyámas do Yôga, de forma a sentirem a respiração consciente num local maravilhoso como aquele. Era um local perfeito para tal. Contudo, em vez de nos concentrarmos, começámos a aparvalhar e rir com vontade ao ponto de nos engasgarmos. Já com a mão na barriga e nas maçãs dos rostos, e após 3 ou 4 tentativas desconcertantes, acabámos por não continuar. Mas ali permanecemos a ouvir as histórias hilariantes da Rita. Sim… quando digo hilariantes é mesmo esse sentido que quero dar à coisa… Histórias de merda literalmente! Memorável…
Mas a Serra da Lousã tem algo de especial que ainda não sei bem o que é. Talvez seja as maravilhosas e exuberantes paisagens, algumas de cortar a respiração pela sua beleza e magnitude. Paisagens vistas de escarpas altivas, a cujos pés se destacam as piscinas fluviais, cuja outra margem se encontra marcada pela existência de um morro encimado pelo castelo medieval. Talvez seja também a simplicidade com que se apresenta a todos os caminhantes e “descobridores do mundo” que por ali passam e vasculham cada recanto… ou talvez tenha sido a companhia. Os colegas e companheiros de partilha e caminhada… talvez… Mas uma coisa é certa: é que cada momento, local, espaço, encanta. Deixa-nos não em estado de êxtase, como se de uma beleza arrebatadora se tratasse. Não! É antes uma beleza que nos transmite uma tranquilidade e serenidade profunda. Simplesmente, deixa-nos em paz. Transmite-nos isso mesmo. Momentos connosco próprios, que nos fazem reportar à reflexão pessoal, à consciência da vida, dos outros e do mundo. Dos caminhos a trilhar e seguir, dos valores pessoais a manter. Lousã hierarquiza-nos as prioridades da vida. Faz-nos pensar que o dinheiro, os bens materiais e a “imagem a manter” na sociedade são valores tão redutores e limitativos. Lousã faz-nos crer que a vivência na simplicidade torna-nos mais humanos, e aí conseguimos descobrir brilho em tudo o que vemos, sentimos, cheiramos, degustamos e presenciamos. Porque nos faz pensar. Porque nos faz ver. Porque nos faz sentir e acreditar que ser diferente num mundo igual, faz de nós pessoas tão especiais, únicas e intrinsecamente mais belas.
Lousã tem este encanto: o de despertar em nós sentidos…
Um comentário:
Mano Lindo...obrigada por estares sempre na minha vida...aqulela conversa ao luar...pela noite da serra ajudou-me tanto...tavez o meu barco tenha avistado aomlonge um possível porto de abrigo ou um novo rumo, onde o farol brilha para me indicar o caminho...cabe-me a mim escolher seguir essa luz e buscar na compaixão e na caridade ser feliz...e Tu com toda a certeza fazes parte da minha felicidade...
...e se a tua canoa está agora frágil, crê que ela sobreviverá à tempestade e poderás novamente repousar sobre ela para te revigorares com o sol da manhã...mil beijos viajante...
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