18.2.09

Viver o Festival de Músicas do Mundo

Sim!
Estive lá!
Estive. Vivi. E experenciei o que o FMM08 teve para dar.
Para quem não conhece, o FMM pode ser enquadrado na área da “world music”. Da tradição ao jazz, da folk aos blues, do tango ao reggae, da clássica à fusão, é sobretudo um festival de música sem fronteiras de género. Afinal, é sempre a multiculturalidade que me fascina. Não mais senão o fascínio pelo desconhecido e pelo diferente.
Num mundo cada vez mais igual, em que todos pensam da mesma forma e em que os valores são globalizados a um ritmo alucinante (e sem se questionar), deixamo-nos, por vezes levar, no mundo da ilusão. Afinal, que poderá haver de mais belo senão a diversidade, a diferença, o despreconceito e o encontro? É isto que se encontra no FMM!
Este ano, o FMM assinalou 10 anos com o programa mais extenso da sua história. Foram 40 espectáculos e iniciativas paralelas repartidos por quatro palcos montados na aldeia de Porto Côvo -junto ao Porto de Pesca – (onde estive) e na cidade de Sines. O número de espectadores estimado em 85 mil pessoas, o mais alto de sempre! E como viver é ser livre, nada melhor do que ter feito as bagagens, agarrar em companheiros de viagem e montar estacas no chão à luz dos faróis do carro numa noite escura, para conseguir montar tendas. A vida de simplicidade que vivemos estes dias de festival permitiu-nos estar longe de tudo aquilo nos preocupa no dia a dia.

As ruas de Porto Covo foram invadidas por freaks e alternativos que no chão da calçada faziam as suas estadas, vendas e pernoitas. Brincos, pulseiras, anéis, quadros, roupa, bolsas entre outros, foram os artigos mais expostos, visto e remexidos por todos nós. Gente pelas ruas acima. Gente pelas ruas a baixo. Este foi o movimento de Porto Covo entre o festival, a praia, e as esplanadas que quer de noite ou de dia se faziam cheias.

De dia, pessoas aglomeram-se junto à praia onde cada pedaço de areia é equivalente a um punhado de ouro e onde se disputa por uma conquista ao sol. E olhem se eu também gosto, e, tenho a certeza que, renhidamente, conseguiria ganhar o meu! Mas preferimos, ir até à Ilha do Pessegueiro, "roer uma laranja na falésia". Ou melhor que isso... divertirmo-nos junto a ela.
- "1...2...3... AGORA" - dissémos tantas e tantas vezes uns aos outros, ao mesmo tempo que carregavamos no botão de disparo da máquina fotográfica, enquanto os objectivados pulavam desalmadamente na tentativa de ficar alguma fotografia de jeito.
- "mais uma vez... vá lá.... 1...2.... AGORA" - a estratégia agora era outra. Saltar antes de do disparo. E por entre estratégias, tentativas e erros conseguimos que algumas delas fossem minimamente dignas de serem publicadas. Este é o resultado de um fim de tarde junto à falésia...
A noite quente faz emergir em qualquer ser humano um olhar para a rua de outra forma. Um olhar que se cruza com os outros numa tentativa implícita de contacto e de conhecimento. Momentos antes dos concertos apinham-se pessoas à porta a comprarem CD’s a preços “low cost” numa tentativa de memória futura de relembrar músicas e momentos como aqueles em que vivemos durante todos os concertos. Somos livres. E dançámos livres, a sentir cada nota de música a ressoar em nós. Notas diferentes. Músicas nunca ouvidas. Pessoas aglomeram-se à nossa volta. E em conjunto, como nunca tentativa de contacto dançamos como expressão mais bonita de comunicação. Cada um ao seu ritmo, como sabe e sente… uma e outra nota.
No entanto, Asha Bhosle foi a esperada, por mim, relativamente a todos os concertos. Uma velha de 75 anos, mas não caquética. Com mais de 13 mil canções gravadas e participação em mais de 950 filmes de Bollywood, na Índia, surpreendeu qualquer um de nós que ali este presente pela sua expressão, contacto e relação que conseguiu estabelecer. Não houve pé que ficasse no chão e mão que não tivesse no ar. Só quem esteve presente sabe do que falo. E afinal, para viver não é preciso só idade. Ela é certamente a prova viva disso: voracidade, garra e alegria contagiante…
Asha Bhosle