31.10.07

V - Em Léon Por Mais um Dia: Descer o Vulcão Cerro Negro

Decido ficar em Léon mais um dia e subir ao Cerro Negro. Alojo-me num hotel que faz passeios ao vulcão. Na verdade, caminhadas até à cratera e, depois, deslizar desde o topo até cá abaixo numa prancha de madeira a uma velocidade de 65 km/h... Fico num dormitório por 3 dólares, tudo compartido.
Manhã seguinte, pequeno-almoço reforçado. Como o tradicional gallopinto (arroz, feijão, ovos mexidos, queijo frito, banana frita e tortilhas) para ganhar forças para a escalada. Seguimos numa carrinha de caixa aberta, todos europeus a viajarem de mochila às costas. O Isar, um holandês de 25 anos, despediu-se do trabalho e anda a viajar pela América há 6 meses. Sinto vontade de fazer o mesmo. Gosto d'esta sensação de não ter destino certo. De fazer o que me apetece. De conhecer as pessoas e de partilhar uns instantes da vida com elas. De ter tempo para apreciar a realidade. De ter tempo para me deter a ver uma flor só porque è bela... talvez que não regresse a Portugal... Estou a gostar por demais desta sensação de liberdade e de plenitude... E é engraçado como as pessoas se aproximam e partilham o que têm, ainda que pouco.
Lá seguimos viagem, pelo meio das estradas de lama. Inevitavelmente, a carrinha fica atolada. Descemos, mas não há muito que possamos fazer. Há apenas uma pá, e o motorista lá se vai esforçando para desatolar o carro. Nada. Aparece ajuda. Uns rapazes munidos de pás lá se enfiam na lama e ajudam a retirar o carro. Pensei que fossem cobrar pelo "serviço" mas não. Simplesmente foram prestáveis.
A primeira visão do Cerro Negro è impressionante!! É o mais jovem vulcão do continente, com apenas 157 anos. Um dia, simplesmente, surgiu do nada. Mas é muito violento. Na sua última erupção, em 2002, cobriu a cidade de Lèon com areia negra durante vários dias. O vulcão é todo preto. Areia e rochas. Só tem vegetação até à base. É um contraste abissal. Verdura e logo a seguir apenas areia negra, não há zona de transição. Iniciamos a caminhada, já com as pranchas na mão. A subida é mais ou menos fácil, se bem que algo instável. Começa a chover e não temos onde nos abrigar. Felizmente, a típica chuvada tropical. Uns minutos de dilúvio mas que pára num instante. Claro que estar na encosta de um vulcão a chover torrencialmente faz disparar a adrenalina. Chegamos ao cume. Fantàstico!!!!!!!!!!! Vê-se os gases a sair da cratera e o cheiro a enxofre è intenso. Não nos podemos deter muito pois a tempestade aproxima-se. A vista desde o cume è arrebatadora. Vê-se apenas floresta verde e muitos outros vulcões. Depois vejo a encosta que vou descer montado numa prancha. Não consigo evitar de pensar que estou a pagar 20 dólares para me matar. Foi um pouco assustador ver a base do vulcão taaaaaaaaaaaaaooooooooooooo lá em baixo e ver as arcaicas pranchas onde estava prestes a deslizar. Enfim...obviamente que o fiz, indo pelo troço onde se consegue atingir a velocidade máxima... claro, se é pra morrer que seja em estilo, lol...
A sensação é fantástica. Deslizei muito rápido e só me espalhei já na recta final... Fiquei todo coberto de areia e com um gosto muito estranho na boca. Todos chegaram bem, incluindo Bagel, "the vulcanic dog" da guia. No caminho de volta ao hotel, apanhámos a tempestade. Carrinha de caixa aberta sem protecção. Mas foi giro irmos todos a conversar encharcadíssimos. Volto ao hotel, já não posso tomar banho, a menos q queira pagar outra noite (não!!!). Regresso a Granada completamente partido, todo sujo, mas feliz e entusiasmado com as aventuras que vivi.

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