Saímos de Fez em direcção a Volubilis, atravessando a grande cidade de Meknes. Debaixo de um calor insuportável de 40º e com o mapa das estradas sempre a acompanhar-nos em todas as direcção até às ruínas desta cidade romana, de quarenta hectares, ainda em escavação e declarada Património Mundial pela UNESCO em 1997.
Embora pensássemos que andávamos perdidos durante algum tempo, lá conseguimos encontrar a cidade que fica mais perto da cidade de Moulay Idriss do que, propriamente, de Volubilis. É um conselho para qualquer um que se queira aventurar a descobrir estas ruínas maravilhosas: sigam em direcção a Moulay Idriss e não em direcção a Volubilis.
Fundada na época Pré-Romana, Volubilis tornou-se no séc.I uma das principais cidades da Mauritânia. Próspera graças ao comércio de azeite, trigo e animais selvagens, nela se construíram edifícios imponentes.
Os edifícios públicos datam do séc. I e os que o rodeiam o fórum datam do séc. II. Depois de Roma se ter retirado da Mauriânia, no séc. III, a cidade regrediu. Foi o princípio do lento declínio de Volubilis. Lento porque a retirada dos romanos não significou o abandono completo da cidade. Muitos habitantes decidiram permanecer e o latim resistiu mais quatro séculos, até à invasão árabe do norte de África. Na verdade, o esta cidade só se desfez no séc. XVIII, quando o sultão Moulay Ismaïl mandou demolir muitos dos monumentos, para aproveitar o respectivo mármore na construção dos seus palácios em Meknès.
Provavelmente, Volubilis seria o mais bem preservado vestígio romano a chegar até nós se este crime arqueológico não tivesse sido cometido. No entanto, não é difícil reconhecer as estruturas da cidade, as vilas, as ruas, os sítios públicos onde se tomavam as decisões políticas ou se celebravam os cultos religiosos. Andar por aqui, nestes caminhos de pedra, é uma experiência ao mesmo tempo exaltante e estranha. Porque esperamos sempre ouvir, na sombra de cada muro, uma voz perdida, um suspiro, uma respiração com dois mil anos.
Na fotografia abaixo vemos a rua principal, a Decumanus Maximus, uma "avenida", com pavimento de lages, que desemboca no magnífico Arco do Triunfo. É este o limite da cidade, a mais formosa das oito portas que ligavam Volubilis ao mundo exterior. Quase a medo, atravesso o Arco, e cada gesto que realizo, sem que o queira, ganha peso. Afinal... estamos no meio de ruínas. Souo por todos os lados. Está um calor horrível. O sol está a pique, no auge do meio-dia. Procuro uma rocha plana para me sentar. Mas sem sombra é totalmente impossível aqui permanecer. Recupero o fôlego. Respiro. Descanso. Observo. E continuo...
Observo as ruínas à distância, e olho-as mais uma vez. Apesar do conceito de "ruinas", elas parecem-me tão belas. E percebo então que talvez a beleza das ruínas está, talvez, nesta sua condição trágica: desaparecer, permanecendo. Já não ser tudo, mas ser ainda um pouco. Se as ruínas são belas é porque no ar se desenha, invisível, a memória do que foram. As casas não morrem. As casas cansam-se de existir e transformam-se em ruínas. Isto é: ficam para contar a história do seu falhanço, da sua queda. São fantasmas resignados, miragens, assombrações...
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