13.8.09

Escalei a Maior Montanha de Portugal: O Pico

Ir ao Pico e não escalar a montanha que dá nome à ilha, é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa ou a Paris e não ver a Torre Eiffel. Para mim, há locais que são sagrados. Que é necessário visitarmos e conhecermos pela dimensão cultural aí envolvente, quer se goste ou não.
Combinámos com um guia o encontro na vila da Madalena, logo de manhã cedo, para não apanharmos o calor e podermos, obviamente, desfrutar do extraordinário espetáculo do nascer e do pôr-do-sol do cimo da montanha.
Somos levados de jipe até ao início da partida, até uma espécie de centro de interpretação, onde vigilantes apontam os nomes de todos aqueles que sobem, para poderem contabilizar à chegada quem já desceu, como forma de controle de pessoas que, eventualmente, se poderão perder no cimo da montanha.
A subida da montanha, embora não seja técnicamente difícil só deverá ser efectuada durante os meses de Verão e por pessoas com capacidade para empreender uma grande caminhada. Nós, com a mochila às costas e equipados com calçado e vestuário apropriados, partimos em grupo para o início da nossa viagem, juntamente com um casal de espanhois, um casal inglês e uma outra portuguesa (a Sofia) que sozinha veio viajar até aos Açores. Erámos ao total, contando com o guia, um grupo de 8 pessoas.
Os colegas de caminhada
O Guia A distância a percorrer até ao cimo da Montanha do Pico é, aproximadamente, 5 Km. O acesso é constituído por caminhos e trilhos que, à excepção da parte inicial, estão identificados por marcos de betão com aproximadamente 1m de altura. Os marcos de betão constituem referências no percurso e de um marco pode-se visualizar o marco seguinte e o antecedente, se não houver nevoeiro ou mau tempo.

Á medida que a caminhada avança, vão sendo estabelecidos e reforçados laços de companheirismo com todos aqueles que partilham a vivência.

São conversas que fluem, são ajudam que se dão. São momentos de distração e de risadas gerais. São momentos de tensão e de expectativa. Momentos de silêncio partilhados por todos e imagens que vão ficando gravadas na nossa memória, juntamente coma força do grupo.

O cansaço torna-se evidente, e a subida cada vez mais difícil. Há pessoas que vão ficando para trás, tendo sempre que o grupo esperar uns pelos outros. Há pessoas que em vez de caminhar, fazem-nos, quase de gatas pela dificuldade acrescida.

O grupo acima das nuvens E enquanto esperamos uns pelos outros, observamos à nossa volta e vemos a dimensão da montanha que estamos imersos. Para lá das nuvens, estando acima delas, conseguimos ver o mar a rodear a ilha. Consegue-se perceber outras pequenas cavidades vulcânicas ao longo do Pico, e uma imensidão de verde por todo o lado. E à medida que subimos, o silêncio torna-se cada vez mais marcante.

Cavidades vulcânicas vistas do cima do Pico

Sinto-me único. Especial. E este sentimento é marcante, porque sei que muito poucos vivenciaram aquilo experenciei. E o quanto gostaria de poder ter partilhado estes momentos com todos aqueles que fazem parte da minha vida. Telefono-lhes extasiante e em grande estado maníaco. Estou eufórico, completamente. E isto porque consigo perceber a imensidão do mundo e de quão pequeno somos todos nós perante tal maravilha. E compreendo, neste instante, que as relações sociais são, portanto, a base da vida. Quem não partilha, por mais que viaje, não vive. Não vive porque se sente só. E só poderei estar completamente cheio quando me deixo maravilhar pela presença dos outros... O Pico Grande A muito custo, chegamos à cratera central ou Pico Grande, com cerca de 700 metros de diâmetro e uma profundidade que atinge os 30 metros. É MAJESTOSA! E nela nasce o Piquinho, o cone vulcânico que se eleva 50 metros acima da orla da cratera, com três ou quatro fumarolas no topo.
O Pico Pequeno A subida do pico pequeno torna-se ainda mais difícil, pela sua verticalidade. Assim, a parte final da subida faz-se em escalada, agarrando-nos a rochas para serem um elemento de segurança para quem quer chegar até ao alto do pico. E ao chegar lá acima, deixo-me extasiar, pela vista que os 2.351 metros de altura nos proporcionam. Com um dia espetacular conseguimos desfrutar a imensidão do oceano e as ilhas do grupo central do arquipélago (Faial, São Jorge, Graciosa e Terceira). Ainda que cansado, a vista compensa todo o esforço realizado.
Sento-me lá em cima, no ponto mais alto de Portugal, e agaixado senti as diferenças de temperatura: na cara sinto o ar gélido do ar, e no corpo sinto um vapor quente que vem de dentro do Pico. As pedras onde me sento estão quentes, como que recompensa de todo o esforço. E ali nos deixamos estar. A contemplar.

3 comentários:

Mariana Rodrigues disse...

Meu querido Nélson. Fiquei muito contente por me teres telefonado durante esta subida! Estava a trabalhar, cheia de crianças à volta, mas percebi logo a tua emoção! Vês? Tão espertinha emocionalmente que eu sou?

Nuno disse...

Mano, já reparaste na qualidade das tuas fotos??

já pensaste publicar uns guias/ roteiros sobre essas tuas viagens? O fundo seriam as tuas fotos!!

Sério, tens futuro! Adoro a tua descrição, os detalhes e os planos.

Parabéns, agora aguardo pela viagem que se segue: Marrocos!

Abração

Anônimo disse...

Parabéns! Eu também lá fui este verão, uns dias antes de ti. Foi simplesmente único.
A distância é que não são 5km... são mais 3,8km...
Mas é isso. É um dia bem passado.